Por paloma.savedra
Rio - O maquinista do trem que bateu em outra composição que estava parada na Estação Presidente Juscelino, em Mesquita, na noite de segunda-feira, prestou depoimento nesta quinta-feira. Ele contou que atravessou o sinal vermelho com a autorização do controlador. No dia anterior, porém, o controlador prestou depoimento e alegou que o maquinista ultrapassou o sinal vermelho sem sua autorização. Por causa da divergência, o delegado que investiga o caso fez uma acareação ontem entre os dois, mas ambos mantiveram suas versões.
O delegado Matheus Almeida, titular da 53ª DP (Mesquita), contou que enviou um ofício a SuperVia para que a empresa informe se existe áudio gravado da conversa entre os dois. Caso haja, ele solicitará a gravação. No dia seguinte ao acidente, o presidente da concessionária, Carlos José Cunha, contou que os trens contam com uma espécie de caixa-preta.
Mais de 300 pessoas ficaram feridas na colisão entre os trens na Estação Presidente Juscelino%3A elas prestaram queixa na delegacia de MesquitaMaíra Coelho / Agência O Dia

Luiz Felipe Moreira Breves, o maquinista que conduzia a composição UP223, contou em seu depoimento que, quando estava na estação de Edson Passos, duas antes do local do acidente, foi orientado pelo controlador Fábio Oliveira Riboura a ficar parado no terminal, porque havia um trem à frente. Depois seguiu viagem até a estação seguinte, Mesquita, onde fez uma parada. Lá ele viu que o sinal estava vermelho. Mesmo assim, segundo ele, o controlador Fábio o autorizou a seguir até Presidente Juscelino. “Por causa da chuva não vi nenhum trem na estação. Só deu tempo de aplicar o freio de serviço máximo e pular da cabine”, disse, na 53ª DP.

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Contudo, segundo o depoimento de Fábio, a versão é outra. Ele contou que Luiz Felipe deveria ter parado no sinal vermelho. “Posso ter falado para ele seguir em direção à estação, mas em velocidade reduzida, porque tinha um trem parado na estação", disse o controlador.
Fábio também contou ao delegado que, após ver que o trem conduzido por Luiz Felipe havia ultrapassado o sinal vermelho, tentou contato via rádio tanto com ele como com o maquinista da composição que estava parada. Porém, segundo afirmou, não teve retorno. Ele contou que só soube do acidente quatro minutos após a colisão.
A colisão entre os dois trens deixou 229 pessoas feridas na segunda-feiraFoto de leitor via WhatsApp do Dia (98762-8248)

Ainda nesta quinta, um perito da Polícia Civil esteve no Centro de Controle e Comando da SuperVia para analisar o painel em que os controladores veem os trens, para saber se o aparelho estava com algum problema. Segundo Matheus Almeida, o laudo ainda não está pronto. O delegado contou ainda que na próxima semana vai convocar mais três funcionários da SuperVia para prestar esclarecimentos.

O maquinista Luiz Felipe também contou que já havia se envolvido em outro acidente há sete anos. Segundo contou, o trem que conduzia descarrilou próximo à Estação de Queimados. Apuração interna da SuperVia o isentou da culpa. Não houve feridos naquela ocasião.

Já o acidente de segunda-feira deixou um saldo demais de 300 feridos. Até ontem, mais de 400 pessoas haviam registrado ocorrência na 53ª DP — muitas para obter reparação por dano moral. Duzentas e sessenta pessoas foram até o Instituto Médico Legal de Nova Iguaçu fazer exame de corpo de delito. O Procon Estadual notificou a SuperVia nesta quinta por causa da colisão. De acordo com a autarquia, a operacionalização do sistema de trens urbanos deveria evitar a colisão de um trem em movimento com outro parado.

Segundo o Procon, o Código de Defesa do Consumidor diz que órgãos públicos ou suas concessionárias são obrigados a fornecer serviços eficientes e seguros. O ato sancionatório determina que a SuperVia apresente sua defesa em um prazo de 15 dias após receber a notificação. Caso sua defesa não seja aceita pelo departamento jurídico do Procon, a concessionária será multada. O valor vai ser calculado a partir de relatório econômico da empresa, com base na receita bruta da concessionária nos últimos três meses.

Procon autua SuperVia por acidente em Mesquita

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