O confronto deste domingo no Juramento, que é dominado pelo Comando Vermelho (CV), aconteceu em plena luz do dia. Segundo moradores, o tiroteio começou no início da manhã e terminou por volta das 16h. A estação do metrô de Tomás Coelho ficou fechada entre 13h16 e 15h49 para embarque, e os passageiros que desciam na estação eram orientados a esperar em seu interior. O ataque teria sido liderado por Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico na Pedreira, em Costa Barros, dominado pela Amigos dos Amigos (ADA).
O comércio na Rua Silva Vale, uma das principais da região, ficou fechado, e os tiros podiam ser ouvidos a longa distância. Pelo WhatsApp do DIA (98762-8248) moradores relataram o clima de pavor. “Extremamente tenso. Não podemos sair de casa. Em pleno dia de sol”, escreveu um morador. “As facções ficam se digladiando, e nós moradores que acabamos nessa situação”, reclamou outro. “Tiroteio constante no Morro do Juramento desde as 5h da manhã. Até o momento com muitas granadas, armamento pesado e muitas famílias desesperadas”, denunciou outro morador.
“Era meio-dia quando recebi o telefonema falando do tiroteio. Não dá para atravessar. É muito tiro, mas minha família está em casa, em segurança. Esse confronto em plena luz do dia é um absurdo. Eu estava trabalhando e não posso nem chegar em casa”.
Outro morador fez um apelo. “Precisamos de uma UPP. Não aguentamos mais essa violência”, reclamou. “Vi os criminosos na mata armados e carregando mochilas”, relatou outro, que usava um binóculo. “Vocês podem chamar a Marinha e o Exército porque a polícia não tá nem aí”. No sábado, a PM fez operação na região e disse que ontem fez buscas em áreas de mata do Juramento. Durante o confronto deste domingo, havia poucos policiais no entorno da favela. Motoristas que passavam de carro eram revistados.
À frente da barreira da Operação Verão, montada em frente ao Rio Sul, em Botafogo, o major Rebelo, do 2º BPM (Botafogo), acredita que as blitzes montadas pela cidade ajudaram a inibir a ação de grupos que vão à praia para promover arrastões. “Os ônibus estão mais vazios. Acho que isso já é um reflexo da operação. Nosso foco está nos coletivos, mas se avistarmos qualquer veículo suspeito, também o paramos para averiguação”, explicou.
No Arpoador e na Praia de Ipanema era possível ver helicópteros da PM sobrevoando a área, enquanto policiais transitavam pelo calçadão e areia. “No verão a praia lota todos os dias. É importante manter esse policiamento nos dias úteis também”, destaca o garçom Carlos Alberto Reis, 53.
A violência no Juramento afeta também quem passa e vive no asfalto. Criminosos têm agido na Av. Pastor Martin Luther King, uma das principais vias da Zona Norte, que corta vários bairros e dá acesso a 11 estações da Linha 2 do metrô — uma delas, a de Tomás Coelho, fechou por duas vezes no fim de semana.
Apesar do aumento da criminalidade na região, segundo dados do Instituto de Segurança Pública, durante a manhã deste domingo, a reportagem do DIA percorreu a via, de Del Castilho até a Pavuna, e durante o trajeto só registrou a circulação de uma viatura da PM, no acesso o ao Juramento.
Dados do ISP mostram que o número de roubo a pedestres cresceu, de janeiro a novembro de 2014, 44% em relação ao mesmo período de 2013. Ontem, às 5h30, o cozinheiro Luiz Paulo, de 45 anos, entrou para as estatísticas. Ele foi assaltado a caminho do serviço. Abordado por dois homens na chegada à estação de Vicente de Carvalho, teve o celular, cartões, um tênis e R$ 50 roubados.
“Aqui virou a terra do medo. Não me agrediram fisicamente, mas com palavras. Vou ter que pegar um táxi para ter mais segurança”. Também ontem, as estudantes Jéssica e Amanda foram abordadas por criminosos logo depois, às 7h. Segundo elas, um homem de moto, na contramão, levou celular, dinheiro e documentos das jovens. “Tem assalto aqui direto. Até em frente à delegacia (44ª DP) eles costumam roubar. Estudamos e trabalhamos muito. Aí, quando pensamos que iríamos nos divertir, não podemos”, afirmou Amanda. Os casos foram registrados na 44ª DP (Inhaúma).