Por thiago.antunes
Rio - O domingo de sol era para ser de praia e descontração para as estudantes Jéssica Ávala e Amanda Ambrósio, ambas de 19 anos, mas foi marcado pelo medo e a insegurança. Elas foram assaltadas no metrô de Inhaúma quando seguiam para Ipanema.
O drama vivido por elas retrata o cenário de violência que assola quem vive na região, que registrou ontem, pelo terceiro dia consecutivo, intenso tiroteio entre traficantes rivais no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho — no Jorge Turco, em Rocha Miranda, moradores relataram que também houve confronto de bandidos. Com o reforço de policiamento na orla da Zona Sul, que não registrou arrastões no fim de semana nas praias, bandidos agiram livremente na Zona Norte.

O confronto deste domingo no Juramento, que é dominado pelo Comando Vermelho (CV), aconteceu em plena luz do dia. Segundo moradores, o tiroteio começou no início da manhã e terminou por volta das 16h. A estação do metrô de Tomás Coelho ficou fechada entre 13h16 e 15h49 para embarque, e os passageiros que desciam na estação eram orientados a esperar em seu interior. O ataque teria sido liderado por Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, chefe do tráfico na Pedreira, em Costa Barros, dominado pela Amigos dos Amigos (ADA).

Em blitz montada em frente ao Rio Sul%2C policiais revistaram jovens que estariam a caminho da praia%3A para oficial da PM%2C tal iniciativa inibe a ação de ladrõesAlexandre Vieira / Agência O Dia

O comércio na Rua Silva Vale, uma das principais da região, ficou fechado, e os tiros podiam ser ouvidos a longa distância. Pelo WhatsApp do DIA (98762-8248) moradores relataram o clima de pavor. “Extremamente tenso. Não podemos sair de casa. Em pleno dia de sol”, escreveu um morador. “As facções ficam se digladiando, e nós moradores que acabamos nessa situação”, reclamou outro. “Tiroteio constante no Morro do Juramento desde as 5h da manhã. Até o momento com muitas granadas, armamento pesado e muitas famílias desesperadas”, denunciou outro morador.

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Alguns pedestres, assustados, corriam pela Avenida Pastor Martin Luther King para se proteger de tiros. Um deles permaneceu três horas parado com seu carro num posto de gasolina, com medo de ir para casa. Ao telefone com a família, ele monitorou a situação da área e só deixou o local quando os tiros cessaram.

“Era meio-dia quando recebi o telefonema falando do tiroteio. Não dá para atravessar. É muito tiro, mas minha família está em casa, em segurança. Esse confronto em plena luz do dia é um absurdo. Eu estava trabalhando e não posso nem chegar em casa”.

Equipe do DIA flagrou homens armados circulando no Juramento no sábado%2C durante operação do Bope. Clima na comunidade segue tensoFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

Outro morador fez um apelo. “Precisamos de uma UPP. Não aguentamos mais essa violência”, reclamou. “Vi os criminosos na mata armados e carregando mochilas”, relatou outro, que usava um binóculo. “Vocês podem chamar a Marinha e o Exército porque a polícia não tá nem aí”. No sábado, a PM fez operação na região e disse que ontem fez buscas em áreas de mata do Juramento. Durante o confronto deste domingo, havia poucos policiais no entorno da favela. Motoristas que passavam de carro eram revistados.

Oitocentos homens garantem segurança na orla
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Assim como já ocorrera na véspera, o domingo foi de praias lotadas no Rio, sem registro de arrastões. Barreiras policiais continuaram espalhadas em diferentes vias de acesso à orla e miravam ônibus que passavam. Nas areias, 800 homens trabalhavam para manter a ordem.
“Está um clima muito mais tranquilo do que o da semana passada. Vi um número maior de policiais espalhados pela praia hoje (ontem)”, disse a aposentada Dominique Simonson, 55. Moradora de Copacabana, ela contou que frequenta o Arpoador e por sorte não presenciou o arrastão do domingo anterior. “Saí minutos antes.”

À frente da barreira da Operação Verão, montada em frente ao Rio Sul, em Botafogo, o major Rebelo, do 2º BPM (Botafogo), acredita que as blitzes montadas pela cidade ajudaram a inibir a ação de grupos que vão à praia para promover arrastões. “Os ônibus estão mais vazios. Acho que isso já é um reflexo da operação. Nosso foco está nos coletivos, mas se avistarmos qualquer veículo suspeito, também o paramos para averiguação”, explicou.

Corpo de homem foi encontrado em carrinho de supermercadoFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

No Arpoador e na Praia de Ipanema era possível ver helicópteros da PM sobrevoando a área, enquanto policiais transitavam pelo calçadão e areia. “No verão a praia lota todos os dias. É importante manter esse policiamento nos dias úteis também”, destaca o garçom Carlos Alberto Reis, 53.

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Um grupo de 48 pessoas, que voltava da praia, foi detido na tarde de ontem quando, no Jardim de Alah, um menor atirou pedra que quebrou vidro traseiro de viatura da PM. Todos foram levados à 14ª DP (Leblon), e um adolescente que quebrou o vidro foi autuado por fato análogo a dano ao patrimônio.
Quem passa pela Martin Luther King sofre com ações

A violência no Juramento afeta também quem passa e vive no asfalto. Criminosos têm agido na Av. Pastor Martin Luther King, uma das principais vias da Zona Norte, que corta vários bairros e dá acesso a 11 estações da Linha 2 do metrô — uma delas, a de Tomás Coelho, fechou por duas vezes no fim de semana.
Apesar do aumento da criminalidade na região, segundo dados do Instituto de Segurança Pública, durante a manhã deste domingo, a reportagem do DIA percorreu a via, de Del Castilho até a Pavuna, e durante o trajeto só registrou a circulação de uma viatura da PM, no acesso o ao Juramento.

Dados do ISP mostram que o número de roubo a pedestres cresceu, de janeiro a novembro de 2014, 44% em relação ao mesmo período de 2013. Ontem, às 5h30, o cozinheiro Luiz Paulo, de 45 anos, entrou para as estatísticas. Ele foi assaltado a caminho do serviço. Abordado por dois homens na chegada à estação de Vicente de Carvalho, teve o celular, cartões, um tênis e R$ 50 roubados.

Vítimas de assaltos na via deixam a 44ª DP (Inhaúma) na manhã deste domingo depois de fazer registrosSeverino Silva / Agência O Dia

“Aqui virou a terra do medo. Não me agrediram fisicamente, mas com palavras. Vou ter que pegar um táxi para ter mais segurança”. Também ontem, as estudantes Jéssica e Amanda foram abordadas por criminosos logo depois, às 7h. Segundo elas, um homem de moto, na contramão, levou celular, dinheiro e documentos das jovens. “Tem assalto aqui direto. Até em frente à delegacia (44ª DP) eles costumam roubar. Estudamos e trabalhamos muito. Aí, quando pensamos que iríamos nos divertir, não podemos”, afirmou Amanda. Os casos foram registrados na 44ª DP (Inhaúma).

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Já o mecânico Nilton Pinto Flores, 61, afirmou que o imóvel dele, em Inhaúma, está desvalorizado por conta dos frequentes tiroteios e assaltos. Ele conta que o valor do imóvel despencou de R$ 300 mil para R$ 200 mil. Vítimas de assaltos na via deixam a 44ª DP (Inhaúma) na manhã deste domingo depois de fazer registros
Colaborou Felipe Carvalho
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