Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Nos saguões por onde passa, por mês, cerca de 1,5 milhão de passageiros, cada movimento pode ser suspeito: um homem inquieto, uma mulher que olha para os lados. Em meio a essa multidão que circula pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, agentes fazem um trabalho de observação, que ajudou a Polícia Federal (PF) a bater, no ano passado, seu recorde de apreensão de cocaína e ecstasy na principal porta de entrada de visitantes para o estado. Foram 113,05 quilos de pó (60% a mais que no ano anterior) e 101 mil comprimidos da droga sintética, o dobro de 2013, recolhidos com traficantes que se passavam por passageiros.
Os números altos de apreensão são resultado, segundo a delegada federal Rita Favoreto, responsável pelo Aeroporto do Galeão, de um minucioso trabalho do setor de Inteligência. O que é feito por sua equipe em parceria com um sistema de comunicação, que inclui informações até de adidos de outros países. “Em 90% dos casos, a apreensão vem da observação do policial, que vai para o saguão e a sala de embarque, e atua na fiscalização do porão. Lá, todas as bagagens passam por um aparelho de raios X e são farejadas por cães treinados. Se houver alguma suspeita na mala, o dono é chamado e convidado a abri-lá. Isso evita a possibilidade de ele alegar, na Justiça, que a droga foi ‘plantada’”, disse a delegada.
A cadela Jackie fareja bagagens em busca de entorpecentes%2C antes de serem levadas para aviões%2C no Aeroporto do Galeão%2C onde a PF ganhará nova carceragem e depósito Márcio Mercante / Agência O Dia

A cadela Jackie e o cão Yoshi são os braços direitos dos agentes. Os dois são figuras conhecidas no Galeão, onde ficam num canil, com direito a ração mais cara do mercado e horário fixo para se alimentar. Diariamente, eles passeiam pelo maior aeroporto internacional do país com uma tarefa pra lá de desafiadora: encontrar drogas em malas e escondidas no corpo de traficantes. Entre um afago e outro recebido por passageiros, que se empolgam com os cães que passeiam pelo saguão, pode haver uma surpresa: se o animal se sentar, há fortes indícios de que na pessoa há entorpecentes.

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A verdade é que por mais experiente que o ‘mula’ — pessoa que transporta droga — seja, há sinais corporais quase inconscientes que o denunciam. Em 2014, 30 pessoas foram presas por tráfico de drogas, no Galeão, sendo 13 estrangeiros. No ano anterior, esse número foi menor: 19, sendo 13 de outros países. Os homens continuam sendo a maioria.
As técnicas que eles usam são as mais inusitadas. “Já encontramos droga em carrinho de bebê, em biscoito, sola de sapato. Agora, eles estão escondendo na borracha de vedação das malas”, explicou a delegada.
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Toda cocaína que foi apreendida estava com passageiros que iriam embarcar, o que corrobora a tese de que o Brasil é rota de distribuição de entorpecentes. Já o ecstasy segue o caminho inverso. Como não é produzido aqui, os traficantes presos tentavam entrar no país com os comprimidos. A apreensão de maconha em 2014 foi de apenas 200g. Em 2013, foram 19.965Kg.
De olho em ampliar o cerco ao combate às drogas, a PF começa a melhorar suas instalações no Galeão, em parceria com a concessionária RioGaleão. As obras estão previstas para começar em março. Uma das novidades é que os policiais vão ter dormitórios individuais. A carceragem e o depósito também vão ganhar mais espaço, e o canil será modernizado.
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Daime é controverso
Um chá alucinógeno, feito da mistura do cipó-mariri com o arbusto chamado chacrona, e que causa dependência física e psíquica. O santo daime — ayahuasca —, que chegou a ser centro de discussão na área jurídica, por causa da possibilidade de ser droga ilícita, pode ser apreendido, mas, confirmado seu uso em rituais de seitas religiosas, é devolvido ao passageiro, posteriormente. Isso porque o entendimento do Ministério Público Federal (MPF) e a corregedoria da Polícia Federal é que não deve instaurar inquérito policial quando a utilização para cultos.
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A decisão se ampara na Resolução nº 1, de 25 de janeiro de 2010, do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), que regulamenta a utilização do chá.
Quando apreendido, o santo daime é submetido a perícia, e como não há inquérito, é entregue de volta ao proprietário. Somente no ano passado, a Polícia Federal teve que devolver 100 litros de santo daime, apreendidos durante embarque no Aeroporto do Galeão.
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Entre o final de 2013 e o início do ano passado, ocorreram sete apreensões do chá — que tem versão líquida e em gel.Em números, isso representa aproximadamente 140 litros do alucinógeno. Os passageiros seguiam para fora do país. A bebida tem entre seus componentes uma substância psicotrópica e está oficialmente liberado para consumo pelo governo.
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