Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - A previsão de frente fria traz esperança de recuperação a locais que tinham a beleza natural destacada pela água em abundância, mas passaram a apresentar cenários devastadores devido à seca e ao forte calor. É o caso das cachoeiras do Parque Nacional da Tijuca, onde as três bacias hidrográficas estão somente com 20% da capacidade do volume normal. Ao contrário das densas correntezas que cobriam quedas como a Cascatinha e a Cachoeira das Almas, hoje filetes de água traduzem o drama da crise hídrica.

“Visitantes antigos ficam chocados quando veem a escassez de água e nascente agonizando. Mas é bom que vejam mesmo, para terem a noção exata das drásticas consequências provocadas pelo descaso do homem com a preservação da natureza”, justificou o chefe do parque, Ernesto Viveiros de Castro, ressaltando que a falta de chuvas constantes fizeram também com que os lagos do Parque Lage, aos pés do Morro do Corcovado — uma das áreas verdes mais imponentes da cidade —, secassem. No local, rachaduras no chão indicam a gravidade da situação.

ANTES E DEPOIS: Conhecidas pela beleza%2C as quedas d’água na Floresta da Tijuca... hoje apresentam só pedras e vegetação com umidade nos dias atuaisJoão Laet e Severino Silva / Agência O Dia

LAGOA ABAIXO DO NÍVEL

A desolação, na mesma proporção, pode ser percebida na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, um dos principais parque públicos do município. Os espelhos d’água dos lagos deram lugar ao lodo e a grama seca surpreende antigos e novos frequentadores. Os tradicionais passeios de pedalinho tiveram até que ser suspensos. “Dá tristeza de observar. Meus filhos não vêm mais aqui. É frustrante”, lamentou o pintor João Santos, de 39 anos.

Turistas lamentam a mudança radical do panorama na Quinta. “Coloquei no meu roteiro de férias como prioridade, mas estou decepcionada. Nas propagandas vi reservatórios cheios e muita vegetação. Agora não tem nada disso”, queixou-se a publicitária Mônica Almeida, 28 anos, moradora de Andrelândia (MG).

Outro ponto paradisíaco do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas, com 9,5 km de contorno e ligada ao mar pelo Jardim de Alá, que separa Ipanema do Leblon, também não esconde os reflexos do tórrido verão, que já transformou o Rio na capital mais quente do País, com temperatura média de 36,9 graus, segundo o Instituto Climatempo.

Lagoa Rodrigo de Freitas%3A atração com nível normal de água...e atualmente%2C parte do fundo aparecendo%2C devido à redução de águaSeverino Silva / Agência O Dia

O espelho d’água está bem abaixo do normal, deixando até um píer fincado praticamente na lama. Mas, pelo menos no caso da lagoa, a redução da capacidade traz, de certo modo, benefício para o espaço aquático. É o que garante o conceituado oceanógrafo David Zee, especialista na questão de água.

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“Sem água entrando como meio de transporte, a quantidade de esgoto diminui, melhorando momentaneamente a qualidade da água e, consequentemente, o habitat natural de milhares de espécies da fauna aquática”, explicou David. Ele, entretanto, pondera que se o lençol d’água chegar a níveis muito baixos, além de acelerar a degradação da vegetação marginal, há o risco de salinização da água, causando grave desequilíbrio natural e atingindo a camada freática. “Isso pode inviabilizar poços artesianos da região”, adverte.
Interior do Rio também sofre
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?A pior seca dos últimos 80 anos também atinge pontos fundamentais para o abastecimento e que funcionam como atrativos turísticos no interior. Um dos principais é a Represa do Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense, que gera energia para 600 mil pessoas.
Na sexta-feira, o reservatório estava apenas com 3,49% de seu volume útil, o pior da história, deixando à mostra ilhas enormes de terra, que, desde 1969, ano de sua inauguração, nunca tinham sido avistadas.
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“O entorno da Bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece 14 milhões de usuários, precisa de reflorestamento que acumule água de chuvas. Com 80% da área verde devastada ao redor da bacia, o colapso total se aproxima cada vez mais rápido”, explica Adacto Ottoni, coordenador de Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj.
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