Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Domingos Brazão completará 50 anos em março, mês em que disputa um cargo diferente do que se acostumou nos últimos 24 anos. Depois de seis mandatos — cinco de deputado estadual e um de vereador —, Brazão buscará não o voto dos mais de 12 milhões de eleitores do Rio, mas o dos 70 deputados que compõem a Alerj, a quem cabe a escolha do futuro conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ). Não será difícil. Ao longo dos anos, Brazão ajudou a criar partidos, formar coligações que pudessem eleger “companheiros” menos votados. Em entrevista ao DIA, o deputado fala das acusações de envolvimento com milícia e enriquecimento.
O DIA: O senhor vai se candidatar a uma vaga no TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado)?
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DOMINGOS BRAZÃO: A gente não pode discutir o TCE porque não existe vaga.
Mas vai existir, quando o conselheiro Aluísio Gama se aposentar por idade, em março. O próprio presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, já anunciou que o apoiará.
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É uma eventual disputa, mas não começou ainda. Não quero falar sobre isso. Quero discutir a vaga no momento adequado.

Seu colega de partido, o deputado Paulo Melo já se colocou candidato.

O Paulo quer tudo. Até outro dia era candidato à presidência da Alerj. Aprendi que é arriscado querer tudo, porque pode dar em nada.

Brazão vai disputar vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ)Carlo Wrede / Agência O Dia

O senhor acha que no PMDB há mágoa com Paulo Melo por ele não ter aderido ao Aezão?

A gente já está muito velho para isso. Não existe nada disso de mágoa. O Picciani é pragmático, é de resultado. Ele vira a página rápido.
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Quais pontos poderiam contar a seu favor numa disputa pelo TCE?
Responderei de forma hipotética. Sou determinado, trabalho com lisura, exerço na plenitude o que me proponho, corro atrás. Mostrarei a diferença entre mim e meu possível adversário. Mas não posso me antecipar. Na hora certa, eu e meu adversário diremos quais são nossas diferenças. De repente, quem ele acha que lhe dará apoio, pode ser o quem vai prejudicá-lo.
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Sergio Cabral apoiará o seu nome ou o do Paulo Melo para a vaga no TCE?
O Cabral já ajudou muito o Paulo... O Cabral já o ajudou muito. A-ju-dou muito. Entendeu? É o que posso dizer.

Nem bem esta terá terminado e outra cizânia aparecerá, sobre quem vai ter a legenda para disputar a prefeitura do Rio em 2016, se o deputado Pedro Paulo, ligado a Paes, ou Leonardo Picciani, filho do presidente.

A prioridade é o Sergio Cabral. Talvez não tenha nem esta questão.

O senhor acredita mesmo na possibilidade de candidatura de Sergio Cabral à prefeitura?

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Se você pensar, o Cabral ganhou tudo até agora. Sempre se elegeu, foi o principal articulador da campanha do Eduardo Paes, elegeu o filho e colocou o sucessor. E se vier, ganha.
Mas ele já sugeriu algum interesse ao cargo?
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Não, nunca. O Cabral saiu do governo e entrou na campanha do filho e do próprio Pezão. Depois de tanto tempo como deputado, senador e governador, ele precisa de um tempo para a família, descansar um pouco. Mas, sinceramente, político é político. Uma hora a vontade de voltar gritará alto. Apostaria no retorno de Cabral.
Voltando ao TCE, o senhor não tem receio de ser questionado?
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Não. Os questionamentos me darão a oportunidade para esclarecer. Acho que homem público não tem que temer questionamento.

Então vamos lá. Seus votos estão, grande parte, em locais dominados por milícia. O senhor é ligado a milicianos?

Comunidades das zonas Oeste e Norte são ocupadas por supostas milícias ou por tráfico de drogas. Ou você condena a população ao isolamento ou trabalha para levar a ela os serviços públicos. Você deve abandoná-las? Alguns optam pelo caminho mais fácil, o da hipocrisia de ficar falando ao microfone. Vou às comunidades, brigo. Uma coisa é a teoria; outra, diferente, a prática.

O senhor conhece algum miliciano?

Se eu conheço miliciano? O que é miliciano?

Policiais, bombeiros, ex-policiais, ex-bombeiros, assassinos de aluguel, gente que se associa para extorquir a população e explorar serviços em comunidades. O senhor conhece algum miliciano?

Não me relaciono nem faço nenhum tipo de acordo político com ninguém que não esteja em condições de trabalhar legalmente. Nunca fui à comunidade fazer acordo de traficante... sequer com presidente de associação de moradores fechados com o tráfico. Quando você se propõe a fazer um trabalho respeitoso, nem tráfico nem milícia se metem com você. Se eu quisesse prender, teria feito concurso para polícia. Se eu quisesse denunciar, teria feito concurso para o Ministério Público. Tenho que exercer meu papel de parlamentar.

Domingos Brazão negou relação com milicianos e rebateu acusações de enriquecimentoCarlo Wrede / Agência O Dia

Que também é de não ter qualquer relação com o tráfico ou a milícia.

É claro, mas menos ainda de abandonar a população que está sofrendo qualquer tipo de opressão ou influência do tráfico ou da milícia. Mas dizer que meu voto se restringe a esses locais não é verdade. Recebo voto de toda esta região (Barra da Tijuca e Jacarepaguá).

Alguns parlamentares reclamam que candidato que não é da milícia não entra nessas comunidades durante as eleições.

É o que dizem, mas sequer tentam. Aparecem só em época eleitoral e, claro, não serão bem-vindos. É difícil resolver os problemas daquelas pessoas, então, às vezes, é mais fácil fazer discurso. Quero chamar os demagogos todos a andar na rua, nestas localidades. Desafio a mostrarem o que fizeram.

Mas em vez de resolver problema pontual não é dever do parlamentar cobrar políticas que resolvam no atacado?
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Uma coisa não elimina a outra. Posso ajudar a resolver no varejo sem deixar o atacado, no cotidiano da Alerj. Esse é o meu trabalho. A prática se impõe a teoria.
Ao longo dos seus mandatos, seu patrimônio cresceu mais de 400%. Dá para enriquecer com o salário de deputado?
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Só posso falar da minha vida e da minha declaração. E ela está correta. Não posso falar da dos outros. Sobre ela, eu digo que não vivo nem de longe do salário de parlamentar. Sou empresário desde os 16 anos. Vivo das empresas que toco.
Onde atuam as suas empresas?
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Eu tenho participação em postos de gasolina e várias atividades empresariais.
Quais atividades?
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Construção... uma série de participação empresarial. Não presto serviço para o poder público. Minhas atividades não são incompatíveis com o exercício do meu mandato da Alerj.
Deu em alguma coisa o processo que a Comissão de Ética abriu contra o senhor e a deputada Cidinha Campos por terem se xingado na Alerj?
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Não. Deu o que tinha que dar. Tirando a nossa dificuldade de conviver no mesmo ambiente, ela é trabalhadora. É guerreira.
Foi só incompatibilidade de gênios?
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Ela comete uns excessos. Mas há coisas boas nela. Nas duas últimas eleições ela ajudou num projeto maior, que foi a eleição do Cabral e do Pezão. O Parlamento é isso. Às vezes, você passa um pouco do ponto. Não é o ideal, mas somos humanos.
Por que o senhor desistiu de criar um partido e sair do PMDB?
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Nunca quis sair do PMDB. Ajudei a criar partido, a formar coligações. Faço isso para aumentar a musculatura das pequenas siglas e aumentar a base de sustentação do governo. Muitos desses pequenos, hoje no Rio, têm mais musculatura que outros, com tempo de televisão. Eles ainda servem atender aos companheiros, que se estivessem no PMDB não conseguiriam se eleger.
De onde vem sua influência sobre os partidos menores?
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Não é influência. É o dia a dia. A gente tem que estar disposto a servir o outro.
Mas só serve, não tem nada em troca?
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Não. Quem se dispõe a servir, é servido. Neste caso, o governo.