Por adriano.araujo

Rio - Eles estão sempre com um sorriso largo, conhecem cada viela das favelas em que vivem e adoram dar bom dia aos moradores — mas quando abrem a boca, o sotaque os entrega. Entre ‘si’, ‘oui’ e ‘of course’, o DIA reuniu um alemão, um guatemalteco, um belga, uma colombiana e um francês para contar as razões que os levaram a escolher uma favela do Rio para viver. O encontro foi no Vidigal, morro com a maior incidência de estrangeiros na cidade que festeja, neste domingo, 450 anos — o último censo da Associação de Moradores, de 2013, apontava mil deles vivendo lá.

O artista plástico francês David Sol, o DaSol, 42 anos, é o pioneiro: escolheu o Vidigal em 2001 e viu de perto as mudanças no morro — para o bem e para o mal. “Era tudo subvalorizado aqui, mas depois os preços explodiram. É um absurdo pagar R$ 200 mil por uma casa que custava R$ 5 mil”, conta ele, amante da luz do entardecer da favela. “Gosto de trabalhar com horizontes e o daqui é sempre diferente.”

'O DIA' reuniu DaSol%2C Alberto%2C Bibiana%2C Paul e André no VidigalAndré Luiz Mello / Agência O Dia

O morro também é fonte de inspiração para o guatemalteco Alberto Hartleben, de 27 anos. Há três no Vidigal, se empolga com a possibilidade de ajudar no desenvolvimento da comunidade. “Através da cultura lutamos para deixar para trás as histórias de violência. Poder ver as mudanças no Vidigal é o que me faz ficar aqui”, conta ele. Para Alberto, a entrada de estrangeiros amplia os horizontes de ‘gringos’ e moradores.

O bom humor e o carinho com que foram recebidos são destacados pelo designer alemão André Koller, 39 anos, e o casal Bibiana González e Paul Dhuyvetter. Apesar de adorarem o baixo custo de vida nas favelas, André, a colombiana de 32 anos e o belga de 53 valorizam o calor humano local.

“Morar na favela mudou meu preconceito”, diz André. “Gosto de subir o (morro) Dois Irmãos de madrugada. Levo um vinho e vejo o sol nascer.” Já a cientista política Bibiana ressalta a cidade dentro da cidade na Babilônia, onde administra um bar com o marido. “É como um pequeno povoado. Todos se conhecem.”

?Uma relação de duas mãos

Gerente do Rio+Social, programa do Instituto Pereira Passos (Prefeitura)que atua nas favelas, Pedro Veiga afirma que o aumento de moradores estrangeiros é notório e benéfico, mas requer cautela para não haver imposição à cultura local. “A ‘Dona Maria’ quer continuar bebendo a tubaína de R$ 1, não quer pagar a Coca-Cola de 3,50”, diz. “Isso é viver no morro.” Para ele, quem chega precisa entender o que é a favela, evitando a gentrificação que eleva o custo de vida e expulsa os moradores. “Ele tem que se impor como um a mais, e não como uma exceção.”

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