Por bianca.lobianco

Rio - Sabe aqueles laboratórios superequipados dos seriados americanos que ajudam os policiais a desvendar qualquer caso e a prender os assassinos? Não é o que acontece com a Polícia Técnica do Rio. Alguns postos espalhados pelo estado, como o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e o próprio Instituto Médico-Legal (IML) de São Cristóvão, inaugurado em 2009, estão em condições precárias de funcionamento. Isso sem contar o número reduzido de profissionais.

Esse sucateamento da Polícia Técnica compromete as investigações e a eficiência das perícias — responsáveis pelas provas técnicas que vão ajudar a elucidar os crimes.

“Estamos num estágio de estagnação. Nada é feito há anos. As provas técnicas são de extrema importância na investigação. Precisamos melhorar a perícia urgentemente. Esperamos que a mudança na direção traga melhorias também no nosso trabalho”, espera a presidente da Associação de Peritos do Estado do Rio (Aperj), Denise Rivera.

Este mês a Polícia Civil mudou o comando do Departamento de Polícia Técnico-Científica (DPTC). Deixou o cargo o perito Sérgio Henriques e assumiu o delegado André Drummond.

No Instituto Médico Legal%2C na Av. Francisco Bicalho%2C há geladeiras quebradas e salas sem ar-condicionado%2C segundo a associação de peritosAndré Luiz Mello / Agência O Dia

Segundo Denise, em 2013 a Aperj fez um relatório sobre a Polícia Técnica, que foi apresentado à chefia da Polícia Civil. Mas nada saiu do papel. Os problemas vão desde a falta de iluminação e de computadores até geladeiras, que preservam os corpos, quebradas.

Os casos mais complicados são em postos de Niterói, São Gonçalo, Baixada e Campo Grande. Em janeiro, o IML de Duque de Caxias foi interditado. O risco de choque e incêndio era alto porque o quadro de eletricidade estava em situação precária. Além disso, o piso estava quebrado, o que dificultava a limpeza e permitia o acúmulo de resíduos biológicos.

PARCERIAS

“Isso acontece por falta de manutenção. Não temos contratos com empresas para fazer esse trabalho. Até mesmo no IML sede (São Cristóvão) há geladeiras com defeito e na sala de necropsia não tem nem ar-condicionado. Podíamos ter parcerias com universidades. Os alunos de Medicina estudariam nos postos e as universidades ajudariam a mantê-los. Não tem como fazer Polícia Técnica sem ciência e essa seria uma alternativa”, avalia Denise.

No posto de Campo Grande o principal problema é a falta de funcionários: são dois peritos por dia. O posto faz 16 necropsias por dia e cem atendimentos, como exames de corpo de delito. Inaugurado em 2013, o de Niterói já apresenta problemas estruturais. Infiltração nas paredes, no chão e teto, além de rachaduras por toda parte.

Estado tem poucos peritos

Segundo a presidente da Associação de Peritos, Denise Rivera, o estado tem apenas 600 especialistas, quando o ideal seria 1.500. A assessoria da Polícia Técnica informou que na semana que vem 79 novos profissionais serão formados.

O mudança na titularidade da instituição foi feita no mês passado. A assessoria de imprensa explicou que a troca é rotina e afirmou também, ao contrário do que disse a Aperj, que a Polícia Civil mantém contrato de manutenção dos equipamentos. Explicou ainda que a instituição está fazendo parcerias com as prefeituras para que sejam feitos os reparos nos postos regionais.

Quanto aos laudos, a assessoria afirmou que os problemas não prejudicam as investigações e que o tempo de entrega dos resultados dos laudos depende da complexidade do caso. Foi negado que haja problemas nos comparadores balísticos e que a Polícia Civil tem cinco deles funcionando normalmente.

Novo prédio ainda no papel

A construção de um prédio novo para o Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) é um projeto antigo da Polícia Técnica do Rio que ainda está no papel. A nova sede será construída ao lado do IML de São Cristóvão com uma passarela ligando os dois prédios. “O ICCE não tem estrutura para comportar tanto material apreendido. Já estão retirando parte dele, mas o ideal é que o novo prédio seja construído”, conta a presidente da associação de peritos.

Dentre outras perícias, como a de drogas e balística, é no ICCE que as imagens que flagram criminosos em ação são analisadas. Denise Rivera conta que, em um caso de saidinha de banco na Tijuca, o trabalho desse setor foi fundamental para a prisão do assassino. “A polícia chegou a prender um suspeito, mas pelas imagens provamos que não era ele o bandido e ajudamos a chegar ao verdadeiro criminoso, que foi preso”, conta a presidente da Aperj, revelando também que os equipamentos para análise balística estão com problemas.

Além dos problemas estruturais e de falta de condições mínimas de trabalho, alguns servidores da Polícia Técnica, que têm outra matrícula no estado, estão tendo que conviver com a falta de pagamento.

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