Por felipe.martins

Rio - Imagens chocantes, nas quais a travesti Verônica Bolina aparece com o rosto desfigurado, sentada, careca, com cortes e hematomas por toda a face, com os seios à mostra e as mãos e os pés algemados numa delegacia, circularam na internet e levaram o governo de São Paulo a anunciar que vai investigar se houve tortura e agressão contra ela.

A travesti foi vencedora do Baile Glam Gay%2C na MangueiraReprodução

A travesti foi vencedora do concurso do Baile Glam Gay que aconteceu em fevereiro, na Mangueira. As fotos a mostram após ser presa, na sexta-feira, depois de ter se envolvido numa confusão no flat em que mora, no bairro Frei Caneca, na capital paulista.

A coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo informou que esteve, na terça-feira, no 2º Distrito Policial, no Bom Retiro, e conversou com Verônica, além de ter acesso ao inquérito. “Mediante os acontecimentos, a Coordenação e o Conselho Estadual LGBT solicitaram ao gabinete da Secretaria de Segurança Pública a instauração de procedimento de uma eventual violação de direitos de pessoa custodiada. O pedido já foi atendido”, explicou o órgão, por nota.

Inicialmente, o caso de Verônica veio à tona depois de ela ter arrancado a orelha de um carcereiro quando estava sendo transferida de cela no 2º Distrito Policial. A jovem foi presa, porque teria agredido uma senhora que ficou incomodada com o barulho de uma discussão que Verônica teve com uma transexual.

O agente da carceragem ficou sem uma parte da orelha mordida por Verônica, que a manteve na boca por quase uma hora. Amigos, no entanto, contam que a agressão foi uma reação a humilhações e tentativas de abuso que ela teria sofrido de outros detentos dentro da cela.

O delegado Luiz Roberto Hellmeister, titular do 2º DP (Bom Retiro), disse que a jovem foi indiciada por homicídio tentado, resistência e tentativa de evasão. Ela permanece na delegacia de maneira provisória, até a destinação para uma unidade da Secretaria de Administração Penitenciária.

Verônica foi ouvida, nesta quarta-feira, e, segundo a Polícia Civil de São Paulo, confirmou que, “quando estava detida em uma cela, expôs a genitália e começou a se masturbar, o que provocou a agressão por parte dos outros presos’. “Estou organizando uma passeata em frente à delegacia. Verônica é uma pessoa extremamente doce. Uma criança grande. Ela nem usa droga, porque gosta de malhar, manter o corpo bonito. Estou chocada com o que fizeram com ela. É muito triste”, afirmou a esteticista Yasmin Fernandes, 32 anos.

A Polícia Civil negou acusações de que o cabelo de Verônica foi cortado na carceragem. Segundo o órgão, a jovem usava aplique, que foi retirado na delegacia.

Protesto nas redes sociaisDivulgação


Caso será levado à Câmara

O deputado federal Jean Wyllys (Psol) se pronunciou na sua página na internet sobre o episódio e disse que vai levar a história de Verônica ao conhecimento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Verônica estava sob a tutela do Estado em uma carceragem de delegacia”, escreveu.

O parlamentar prometeu levar o caso à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, à CPI da Violência contra Jovens Negros e Pobre e à Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher “para averiguar se, de fato, houve ou não tortura no caso de Verônica e para garantir que o mesmo não aconteça com outras representantes desse segmento tão estigmatizado”, complementou ele.

Um áudio circula na internet e teria sido feito espontaneamente pela jovem. “Todo mundo está achando que eu fui torturada pela polícia, mas eu não fui. Eu simplesmente agi de uma maneira que eu achava que estava possuída, agredi os policiais, eles só agiram com o trabalho deles. Não teve agressão de tortura”. Amigos acham que ela foi obrigada a fazer a gravação e começaram uma campanha nas redes sociais, a #SomostodosVeronica.


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