Por paulo.gomes

Rio - Uma creche em Jacarepaguá, na Zona Oeste, está sendo acusada de maus-tratos contra um de seus alunos. Os pais de uma criança especial, de 4 anos, gravaram um vídeo em que o menino está amarrado numa cadeira enquanto as outras crianças estão soltas normalmente. Segundo a funcionária da Creche Escola Sonho Meu, no Anil, o garoto estava daquela forma pois iria "lanchar". O caso foi divulgado pelo colunista Ancelmo Gois, de 'O Globo'.

Os pais da criança, Marcelo Henrique Gomes e Márcia Augusto Barbosa Gomes, flagraram a ação 20 minutos após deixarem o menino na creche. Eles disseram que receberam uma denúncia de que o filho estava sofrendo maus-tratos no local. O caso foi registrado na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).

Menino de 4 anos estava amarrado numa cadeira quando o pai chegou na Creche Escola Sonho Meu%2C em Jacarepaguá%2C e flagrou a açãoReprodução Vídeo

Segundo a Polícia Civil, as imagens foram analisadas e testemunhas ouvidas, assim como a direção e funcionários da creche. O caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Diretoria diz ter sido vítima de armação

A diretora da creche, Sônia Maria Cabral de Almeida, de 63 anos, se defendeu nesta quarta-feira, garantindo que tudo não passa de uma armação de uma antiga professora do local. Ela revelou que o vídeo foi gravado no dia 24 de fevereiro deste ano.

"Fui vítima de uma denúncia injusta, foi uma armadilha. Foi uma professora aqui da escola. Ela estava com problema pessoal comigo e avisou para todos que ela iria fechar a escola".

De acordo com a diretora, a cadeira aonde a criança estava foi usada pela primeira vez no dia 12 de fevereiro, durante uma festa de Carnaval na creche. Depois, segundo ela, houve um recesso na unidade, com as atividades retornando somente no dia 23, dia anterior a gravação do vídeo.

"As crianças estavam muito agitadas, então eu coloquei o menino na cadeira de contenção. No dia seguinte da festa do Carnaval, a criança não veio para a creche. Eu não tive tempo de avisar nada aos pais sobre a cadeira. Mas ele não estava amarrado", diz.

A professora Conceição dos Santos Oliveira, de 58 anos, que estava na sala de aula no momento em que o pai da criança realizou o vídeo, explicou o motivo do menino estar na cadeira naquele momento.

A direção da Creche Escola Sonho Meu%2C em Jacarepaguá%2C mostrou a cadeira aonde o menino de 4 anos teria ficado amarradoSeverino Silva / Agência O Dia

"A cadeira foi usada só para o menino lanchar. Foi a segunda vez que ele usou a cadeira. A cadeira é necessária porque é uma criança especial, tem dificuldade para ficar em pé. A cadeira é usada exclusivamente para a alimentação dele".

A diretoria se considera uma vítima ao lado dos pais e da criança. "Tenho certeza do meu trabalho. Tanto eu quantos os pais somos vítimas de uma calúnia. Eu vou provar que não houve maus-tratos. Eu não tenho medo. Eu tenho certeza que não apenas ele, mas todas as crianças são bem tratadas aqui. São tratadas como meus netos. Tenho creche desde os meus 24 anos", finaliza.

A página da creche no Facebook estava recebendo diversas críticas após a divulgação do caso. No entanto, horas depois, foi retirada do ar.

A criança, que estava na creche Sonho Meu, desde 2011, foi transferida para uma unidade da rede municipal de ensino, no Recreio dos Bandeirantes, também na Zona Oeste. A Secretaria Municipal de Educação aguarda a conclusão da Polícia Civil sobre o caso para depois encaminhar ao Conselho Municipal de Educação. Lá será definido se a creche receberá alguma punição.


Após o episódio, a criança, que estudava na creche havia três anos, foi transferida para uma unidade municipal de ensino. De acordo com os pais, o aproveitamento dele melhorou. "Ele está mais alegre, mais participativo, respeita regras, brinca e se diverte com as crianças sem distinção", disse a mãe, a administradora Márcia Augusto Barbosa Gomes, de 38 anos.

O caso foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim). A Secretaria Municipal de Educação aguarda a conclusão da Polícia Civil para depois encaminhar ao Conselho Municipal de Educação, onde será definido se a creche será punida.

A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos afirmou em nota que a prática é “violadora, podendo, inclusive, ser caracterizada como crime de tortura”.A psicóloga Luana Flores acredita que houve discriminação. "Naquela posição, a criança se vê diferente das outras e tende a absorver essa culpa, pensando que há algo de errado com ela”.

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