Por nicolas.satriano

Rio - Próximo alvo do programa de pacificação do governo do estado, o quartel-general do tráfico do Chapadão, em Costa Barros, deu nesta segunda nova demonstração de força — deixando claro o tamanho do desafio de ocupá-lo — e reforçou o clima de terror nas comunidades vizinhas, sobretudo a Baixada.

Um policial do 41º BPM (Irajá) foi morto em emboscada quando o Grupamento de Ações Táticas do batalhão checava denúncias de que bandidos fugiram para a comunidade. Um suspeito morreu, e outros dois foram baleados.

Operação no Morro do Chapadão terminou com um sargento da PM e um suspeito mortosArte O Dia

O sargento Fabio Sant’Anna de Albuquerque, de 37 anos, integrava equipe de dez homens do GAT em incursão no Chapadão quando foi surpreendido por diversos bandidos na localidade do Lajão, por volta das 15h.Os PMs ficaram encurralados. Para resgatar o corpo do militar, o 41º BPM pediu auxílio ao Bope.

A operação começara de manhã, com a morte de um suspeito. De acordo com a PM, Marlon Saturnino Correa, 18, foi surpreendido na localidade do Tiradentes e não resistiu aos ferimentos. Uma pistola foi apreendida.

No local, Michael Douglas da Silva, 21, também ficou ferido no supercílio. Foram apreendidos radiotransmissor, granada, cocaína e maconha. Já o outro suspeito baleado foi identificado como Jean Wallace da Silva, de 23 anos, que, segundo a polícia, carregava uma pistola, um radiotransmissor, celular e 37 cápsulas de cocaína, além de carregadores e munição. O acusado teria reagido a uma abordagem na Rua Ministro Pedro Franklin. Ele foi levado para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes.

Os confrontos prejudicaram as aulas na comunidade. A morte de Fabio Albuquerque será investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DH).

Roubo para reforçar 'caixa' do CV

A migração massiva de bandidos do Comando Vermelho (CV), egressos de comunidades ocupadas pela PM para o Complexo do Chapadão tem imposto o terror a moradores dos bairros próximos, como O DIA mostrou no domingo.

Depoimentos de moradores e autoridades de segurança, que dão ao Chapadão o status de ‘Novo Complexo do Alemão’ — por conta da sua importância estratégica para o CV — ganham força nos números divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

Levados em conta os primeiros bimestres de 2011 a 2015, nota-se a escalada da violência. O período coincide com a ocupação do Alemão, em novembro de 2010. Bairros de classe média como Irajá, Vicente de Carvalho, Pavuna e Anchieta padecem com o aumento do número de ocorrências.

De acordo com policiais, os lucros vindos do tráfico de entorpecentes já são pequenos, dada a partilha entre muitos criminosos. Para complementar o orçamento, práticas como roubos de veículos particulares e de cargas e assaltos a pedestres se tornaram constantes.

Prefeito pede reforço à PM

Prefeitos de cidades vizinhas ao Chapadão temem os efeitos da migração em massa de bandidos. “Não sou contra UPP, mas é um erro grave ocupar o Chapadão sem reforçar os batalhões da Baixada. Vão resolver a situação lá e criar o inferno aqui. Isto é uma aberração.

Já há ‘bondes’ circulando pela cidade para ‘sentir’ a localidade. Isso preocupa”, alerta Sandro Mattos, de Meriti. E moradores fazem coro. Um grupo amarrou em postes no Centro duas faixas de dois metros para alertar motoristas sobre a violência. “Perigo! Alto índice de assalto a qualquer hora do dia”, diz a faixa. “O pior é que vemos um patrulhamento precário. Já presenciei cinco roubos de carros em um ano”, lembrou o professor de Filosofia Alex Barbosa Mendes, de 42 anos, ele mesmo vítima de assalto.

Mattos não é o único a pedir reforço. “Não é de hoje que a violência cresce aqui. Expliquei ao Pezão a necessidade de ampliar projetos educacionais e esportivos. Do contrário, teremos uma crise sem precedentes”, afirmou Denis Dautmann, prefeito de Belford Roxo. Colega de Nova Iguaçu, Nelson Bornier atesta: “O Chapadão já está na Baixada há algum tempo. Isso preocupa.”

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