Por felipe.martins

Rio - A violência em um dos maiores redutos do tráfico teve outro capítulo trágico nesta terça-feira. Uma empregada doméstica foi morta e uma professora baleada, enquanto trabalhava na creche da prefeitura, durante uma operação da Polícia Civil no Complexo do Chapadão, em Costa Barros. Dominada pela facção Comando Vermelho, o Complexo do Chapadão tem sido palco de grandes tragédias em decorrência de confrontos entre traficantes e policiais.

Há exatos cinco anos, Wesley Gilberto Rodrigues, 11 anos, foi morto por bala perdida dentro de um Ciep, na mesma região, após uma operação do 9º BPM (Rocha Miranda). Na ocasião, o comandante do batalhão, coronel Fernando Príncipe, foi afastado do cargo.

Por causa do confronto desta terça-feira, 13 unidades escolares do município ficaram sem aulas e mais de cinco mil alunos foram afetados. A ação policial pretendia cumprir 11 mandados de prisão, mas apenas uma pessoa foi detida.

Filhos da doméstica Ana Cleide se desesperam com a notícia da morte da mãe. Perto dali%2C a professora Luciana também foi baleadaFabio Gonçalves / Agência O Dia

A professora Luciana Barbosa foi baleada dentro do Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Beatriz de Souza Madeira, na mesma rua onde a empregada doméstica foi atingida. Luciana levou um tiro de raspão na perna enquanto montava enfeites para a festa julina da creche. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, ela foi medicada e liberada.

Ana Cleide Ferreira Lima da Silva, de 41 anos, foi baleada nas costas quando estava em um ponto de ônibus, na Rua Darwin Brandão. A doméstica estava a caminho de um posto de saúde para marcar uma consulta para sua sogra. Ela chegou a ser encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro por um vizinho, mas já chegou morta.

A morte da empregada doméstica Ana Cleide deixou sua família desolada. Casada e com dois filhos, ela seguia para a UPA, onde pretendia marcar uma consulta para sua sogra. A vítima trabalhava há muitos anos em uma residência na Tijuca. “Nunca imaginei que isso poderia acontecer com a minha família. As pessoas moram aqui porque precisam. O que nos resta é pedir a Deus que isso não aconteça”, lamentou o irmão de Ana Cleide, o pintor José Luiz Ferreira Lima, 45 anos.

Há dois meses, três moradores morreram e quatro foram baleados durante uma ação de bandidos na Fazenda Botafogo, bairro vizinho ao Chapadão. No mesmo mês, um policial militar foi morto após troca de tiros na comunidade em Costa Barros.

EM DIAS DE CONFRONTOS, CORREDOR VIRA ABRIGO

Por dentro das centenas de unidades escolares localizadas em áreas de risco, a rotina tem sido de medo. Uma funcionária de um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) próximo à região do Chapadão, relatou que, quando começam os tiros, todos os funcionários e as crianças são orientados a se abrigar nos corredores.

“É o lugar mais seguro. Não liberamos ninguém para sair em hipótese alguma durante o confronto”, relatou a funcionária, que preferiu não se identificar. Em casos de operação policial, quando eles são avisados com antecedência, a unidade nem é aberta. “Tem vezes que recebemos recado dos próprios bandidos dizendo que vai ter confronto. Quando isso acontece, avisamos às mães para não mandarem as crianças”, explicou.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que o confronto de ontem no Chapadão encerrou as atividades de oito escolas, três creches e dois EDIs. Já a Secretaria de Estado de Educação afirmou que as unidades da rede funcionaram normalmente e que os colégios realizaram conselhos de classe.
Ainda de acordo com a Secretaria do município, cada direção tem autonomia para decidir sobre o fechamento ou abertura da escola ou creche.

Para dar assistência aos alunos e professores, o órgão criou o Núcleo Interdisciplinar de Apoio às unidades escolares, composto por pedagogos, psicólogos e assistentes sociais. As equipes são acionadas sempre que uma situação difícil se configura em uma escola. Atualmente, a cidade conta com 206 EDIs, sendo 49 em áreas com Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), e 247 creches públicas.

Quatro feridos na Vila Cruzeiro

Na noite de segunda-feira, um confronto entre policiais e bandidos na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, terminou com quatro pessoas feridas. As vítimas foram encaminhadas ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Entre os feridos, apenas um adolescente, de 17 anos, baleado na panturrilha, permanece internado.

A polícia informou que o confronto começou pouco antes das 23h, depois que uma viatura da PM foi atacada por criminosos armados dentro da comunidade. Os militares reagiram e houve uma rápida troca de tiros. Segundo o pai da vítima de 17 anos, que não quis se identificar, o jovem estava andando de skate na rua, quando foi atingido. “Não imaginamos que isso pode acontecer com a família, com um filho da gente. Estamos numa linha de fogo”, disse.

A comunidade do Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, também enfrentou tiroteio ontem. Na ação do 9º BPM (Rocha Miranda), um militar foi baleado de raspão na cabeça. Ele foi encaminhado para o Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, onde foi socorrido. Um suspeito foi morto e outros dois, presos. Uma pistola foi apreendida.

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