Rio - No rastro do dinheiro de oficiais PMs acusados de receber propina, agentes da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança e da Corregedoria Polícia Militar vasculharam ontem dez endereços em busca de novos documentos. Para fechar ainda mais o cerco ao grupo, o principal alvo da investigação, o coronel Alexandre Fontenelle Ribeiro de Oliveira, foi denunciado desta vez à Justiça pelo crime de lavagem de dinheiro pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.
Além dele, outros denunciados são o capitão Walter Colchone Netto, os majores Carlos Alexandre de Jesus Lucas e Édson Alexandre Pinto de Góes, além das advogadas Mércia Fontenelle e Maria Paula Fontenelle — mãe e irmã do coronel Fontenelle.
A base da operação, batizada de Profilaxia, são imóveis que pertenceriam a Alexandre Fontenelle, mas foram registrados oficialmente em nome de policiais, da mãe e da irmã dele , além de uma luxuosa casa do oficial em Búzios, na Região dos Lagos.
Um apartamento vazio no Grajaú, avaliado em quase R$ 1 milhão, consta como sendo de Maria Paula, enquanto outro em Jacarepaguá, de R$ 750 mil, está no nome do capitão Colchone, do major Lucas e Maria Mércia. Adquiridos entre 2012 e 2013, na mesma época, o coronel Fontenelle comprou dois veículos um Toyota Corolla e um Honda City.
“A denúncia de lavagem de dinheiro já foi aceita pelo juízo da 1ª Vara criminal de Bangu. As penas variam de três a dez anos de prisão”, afirmou o promotor Daniel Braz. Fontenelle, outros 25 PMs e um mototaxista respondem ainda pelo crime de organização criminosa resultado da operação Amigos S/A, deflagrada ano passado.
Nesta segunda-feira, chamou a atenção dos investigadores o apartamento do major Carlos Alexandre de Lucas no Condomínio Atmosphera, na Península, na Barra, avaliado em R$ 2 milhões. Segundo os promotores do Gaeco, o imóvel está em nome da mulher dele que não tem renda suficiente para a comprá-lo. “Vamos abrir outra investigação de lavagem de dinheiro”, anunciou Daniel Braz. Foram apreendidos extratos bancários e comprovantes de imposto de renda.
Todos os PMs investigados no esquema de propina e lavagem de dinheiro vão responder por improbidade administrativa. “Antes o foco era prender, agora é preciso ir atrás do patrimônio ilícito, sequestrar os bens e fazer com eles também respondam pela improbidade administrativa”, afirmou o promotor Daniel Braz, do Gaeco. Durante as investigações foram apreendidos R$ 287,6 mil em dinheiro na casa do major Edson Góes.
Em nota, a PM informou que os oficiais envolvidos no esquema respondem ao Conselho de Justificação e os praças ao Conselho de Disciplina. Ambos os procedimentos podem resultar na exclusão dos militares da corporação, embora, no caso dos oficiais, a palavra final seja do Tribunal de Justiça.
Denunciados desde 2014
As investigações mostram que o ex-comandante de Operações Especiais da PM, coronel Alexandre Fontenelle, levava os mesmos policiais para as unidades onde servia. A Operação Amigos S.A. de setembro de 2014 combateu extorsões praticadas pelo grupo quando ele estava no 14º BPM (Bangu). Foram denunciados por associação criminosa armada 26 PMs e o mototaxista que arrecadava a propina. Eles foram presos à época e soltos em fevereiro. Em dois anos, 29 PMs foram expulsos do Batalhão de Bangu.