Por thiago.antunes

Rio - ‘Perdi uma pessoa extraordinária, meu melhor amigo e o melhor marqueteiro que já tive”, comentou, abatido, o governador Luiz Fernando Pezão, ao se despedir do pai,Darcy de Souza, de 88 anos, na tarde desta quarta-feira, no Cemitério Municipal de Piraí, no Sul Fluminense. Darcy morreu na madrugada de complicações cardíacas, depois de quase dois meses internado no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo. Pelo menos 300 pessoas, entre parentes, amigos, empresários e políticos,acompanharam o cortejo.

Pezão recebe condolências do ex-governador Sérgio CabralPaulo Araújo / Agência O Dia

Pezão ganhou o apelido político do pai em 1982, ao didisputar (e conquistar) uma vaga de vereador na pacata cidade de pouco mais de 27 mil moradores. Na época, Darcy cortou um pedaço de madeira em forma de pé para fazer propaganda do filho. A ideia deu certo e a fama do filho, que calça 48, ganhou a região.

Ex-funcionário da Light, onde trabalhou por 47 anos, de hábitos simples e sem formação superior, o torneiro mecânico que alavancou a carreira política de Pezão como vereador, prefeito e governador gostava de relembrar a época em que pedia voto de porta em porta para o filho em Piraí. “Anotava os nomes dos futuros eleitores. Era uma forma de prestar contas a eles depois”, justificou, em entrevista ao DIA ano passado, pouco antes das eleições. Na época, gabou-se de ter dado o apelido famoso ao filho. “Mas esqueceram o meu nome e da minha esposa. Passamos a ser conhecidos somente como os pais do Pezão”, ponderou, com enorme sorriso, sua marca registrada.

Darcy de Souza%2C ao lado da esposa Ercy e do filho%2C o governador PezãoLevy Ribeiro / Agência O Dia

Amparada por Pezão, Dona Ecy, de 84 anos, mãe do governador e de outro filho, Carlos, ficou ao lado do caixão o tempo todo. “Não está sendo fácil para ela. Foram 64 anos juntos. Um exemplo de casal”, comentou Pezão, emocionado.

A presidente Dilma Rousseff, que enviou uma das mais de 40 coroas de flores em homenagem a Darcy, chegou a cogitar ir ao enterro, mas desistiu por conta da agenda apertada no Rio. Em poucas horas, porém, dezenas de políticos apareceram no velório. Praticamente quase todos os prefeitos do Sul do estado e da Baixada Fluminense estiveram presentes.

Juntos, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o vice-governador Francisco Dornelles e o ex-governador Sérgio Cabral também foram consolar Pezão, assim como o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o atual presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, e o ex-presidente da Alerj, Paulo Melo.
“Fiz questão de vir dar um abraço no amigo Pezão, principalmente nessa hora tão ingrata”, comentou Paes. “Conheço o Seu Darcy há anos. Ele foi fundamental na formação política do Pezão, que herdou dele também a simplicidade, a serenidade e a alegria”, completou Cabral.

Saúde debilitada

A saúde de Darcy vinha inspirando cuidados há oito anos, por causa de um marcapasso (aparelho implantado em pessoas que apresentam disfunções cardíacas e que envia impulsos elétricos ao coração), começou a se agravar em janeiro deste ano.

Amigos próximos contam que nos últimos dias, entretanto, Darcy teve uma súbita melhora no quadro de saúde e chegou a manifestar a intenção de sair do hospital, pois queria “comer comida de verdade”.

O último adeus

Em casa, dona Ecy fazia questão de ainda passar as roupas que enviava ao marido no hospital. Fora, sem saber, seu último gesto de amor ao eterno amado. Na hora do enterro, no jazigo da família, no alto do cemitério, ela só precisou do auxílio de um carro para subir a ladeira. E acompanhou em silêncio, entre lágrimas, o caixão baixando ao túmulo.

A Prefeitura de Piraí declarou luto oficial e o trânsito da cidade parou por causa do velório. “Gostava de ficar batendo papo com o Darcy na Praça Getúlio Vargas, em frente à prefeitura. Ele gostava de falar de tudo, especialmente do seu querido Flamengo e, claro, do orgulho de ter um filho governador do estado”, disse o pedreiro aposentado Paulino Alcântara, 78.

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