Por nicolas.satriano

Rio - Vestir roupa, tomar banho e até abrir uma porta. Atividades simples para a maioria das pessoas, mas hoje sinônimo de sacrifício para o cabo bombeiro Sandro Correia. O militar de 42 anos está com os movimentos limitados desde que teve 70% do corpo queimado na explosão do posto 4, em Copacabana, em 26 de julho, há quase dois meses.

Outra vítima do acidente foi o cabo Bruno Moraes de Mello, de 28 anos, que ficou com 15% do corpo queimado. Os dois ainda estão de licença e não sabem se poderão continuar trabalhando na orla devido aos ferimentos.

Cabo Bruno e cabo Sandro mostram as cicatrizes deixadas pela explosão ocorrida há quase dois mesesBruno de Lima / Agência O Dia

Advogado dos militares, Carlos Azeredo, vai entrar na Justiça contra a Orla Rio, empresa responsável pelos 27 postos de salvamento das praias cariocas. Segundo ele, a empresa não faz a manutenção nos postos.

Segundo Correia, a explosão aconteceu quando ele foi acender a luz do posto. Uma das hipóteses é que no local haveria acúmulo de gás metano produzido pelo esgoto cujo bueiro fica dentro do posto. Segundo os bombeiros, esse gás é dissipado por uma escotilha no teto do posto que estaria fechada.

O laudo da Polícia Civil com a conclusão das causas da explosão ainda não foi concluído.

Correia e Mello estavam na parte superior do posto na hora da explosão. “Estar vivo foi vontade de Deus. Foi milagre. Em segundos, me vi envolvido numa bola de fogo: braços, pernas e cabelo queimados. Corri para debaixo do chuveiro do posto e fiquei lá até o socorro chegar”, lembrou Correia.

Mello estava perto da porta. “A minha sorte foi que o casaco me protegeu, mas estava de bermuda e queimei as pernas. A mão também foi atingida pelo fogo porque coloquei-a no rosto para protegê-lo. A cena foi horrível. Na hora não senti nada e me preocupei mais em ajudar meu amigo, mas depois senti minhas pernas arderem e as bolhas começaram a surgir”, contou o cabo.

Ambos tiveram que ser hospitalizados. Correia ficou 24 dias no Hospital Alberto Torres, em São Gonçalo, e há quase um mês está em casa. Mas ainda tem que ir ao hospital fazer curativos. "Ainda sinto a pele repuxar e estou com limitações para tomar banho, me vestir e até abrir uma porta", reclamou o militar.

O advogado Carlos Azeredo afirmou que, até agora, ninguém da Orla Rio prestou assistência às vítimas. “Ninguém os procurou para oferecer ajuda. Vamos entrar com uma ação indenizatória contra Orla Rio”, disse. 

Orla Rio culpa militares pela explosão

A Orla Rio informa por meio de nota que contratou o perito João Luis de Souza Miranda Cardoso para analisar as circunstâncias da explosão no Posto 4 de Copacabana, em 26 de julho.

A concessionária argumenta que o laudo do perito concluiu que o “incidente aconteceu por fatos alheios à infraestrutura do espaço. A identificação de alimentos, bebidas alcoólicas e equipamentos que não integram à atividade de salvamento indicam que possivelmente os profissionais da unidade faziam o cozimento de alimentos, inclusive com presença de inflamáveis. Além disso, estavam dispostos de forma completamente desorganizada, entulhando as dependências", acusa a nota.

A Orla Rio diz “que descarta que a explosão se deu em função da existência de gás metano, sendo originária de prática inseguro dos guarda-vidas”.

Vereador quer mais segurança nos postos salva-vidas

Segundo o presidente da Comissão de Defesa Civil da Câmara do Rio, vereador Marcio Garcia (PR), os postos de salvamentos começam a passar por reformas. As mudanças foram acertadas entre a Orla Rio e o Corpo de Bombeiros com o objetivo de aumentar a segurança aos bombeiros e aos frequentadores dos postos.

No posto 12, no Leblon, a reforma já começou. “Trocaram as louças e pintaram. Os bombeiros terão lugares para guardar seus pertences e equipamentos e terão que respeitar esse novo tipo de instalação”, explicou Garcia.

Segundo ele, a Orla Rio está licitando essas reformas e fará um cronograma das melhorias. Um dos pedidos da corporação é a construção de uma entrada independente para os guarda-vidas.

“Quando eles avistam alguém se afogando, têm que virar as costas para o mar para descer do Posto e assim perdem a pessoa de vista. E ainda, tem que passar pela fila de banhistas e pela roleta. Perde-se muito tempo”, diz o vereador.

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