Por paulo.gomes

Rio - ‘Se aceitasse aquele dinheiro, ficaria rico, mas não conseguiria deitar no travesseiro sabendo que me vendi para um traficante responsável até por morte de amigos policiais.” A afirmação é de um sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope), de 44 anos, que junto com outros quatro agentes da tropa de elite fez seu papel de agente da lei e recusou propina de R$ 1 milhão e 15 fuzis oferecida terça-feira pelo traficante Rafael Alves, o Peixe.

A Secretaria de Segurança Pública estuda a transferência do traficante para um presídio federal. Um relatório justificando o pedido está sendo elaborado, mas ainda não há prazo para a mudança. Na fila de espera por uma vaga em presídio federal fora do estado, também estão os traficantes Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fú da Mineira, e Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho.

O traficante foi encontrado num condomínio luxuoso na Barra da Tijuca. Ele dormia no sofá da sala, quando foi surpreendido pelos policiais do Bope. Na ação, o comparsa Marcos Antonio Sena, o Lambão, de 36, também foi capturado.

Preso num apartamento de luxo numa ação do Bope%2C o traficante Rafael Alves%2C o Peixe%2C tentou subornar os policiais com R%24 1 milhãoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Peixe assumiu o controle do tráfico na comunidade após a morte de Márcio José Sabino, o Matemático, durante perseguição policial em 2012. Dono de uma extensa ficha criminal e foragido da Justiça, o criminoso é vítima de uma grave doença , conhecida como anemia falciforme, que causa alteração dos glóbulos vermelhos.

Para não ser preso terça-feira, o criminoso, apontado como o chefe do tráfico na Vila Aliança, em Senador Camará, estava disposto a desembolsar a quantia milionária para os PMs. Só com a venda dos 15 fuzis — com preços que variam entre R$ 20 mil a R$ 40 mil —, os policiais poderiam arrecadar de R$ 300 mil a R$ 600 mil.

“Não vou mentir. Não é fácil recusar essa quantia. Poderia quitar a minha casa e ajudar muita gente que precisa de mim. Mas penso que nada de errado vale a pena. Amo o Bope, minha profissão, minha farda. Quero poder se aposentar aqui de cabeça erguida”, ressaltou o sargento, que está há 20 anos na corporação, é pós-graduado em Direito Penal e recebe salário de R$ 5 mil, sem contar os descontos por empréstimos.

O policial acredita que a prisão de Peixe foi uma resposta do Bope após notícias negativas de PMs envolvidos com desaparecimento de dinheiro apreendido durante operação em Jacarepaguá. “Mostrou que no Bope há policiais honestos. Generalizaram a corporação. Demos uma resposta rápida”, disse.

Peixe foi localizado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), com o apoio do Disque-Denúncia. O órgão oferecia R$ 20 mil de recompensa por informações sobre o paradeiro do criminoso.

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Marcos Antonio Sena de Andrade, o Lambão, também foi preso na operação. Peixe tentou subornar os policiais com R$ 1 milhão e 15 fuzis. De acordo com os policiais, os dois estavam deitados no sofá na sala vendo televisão e não havia armas dentro do imóvel. Contra Peixe, foram cumpridos quatro mandados de prisão por tráfico de drogas. Já Lambão tinha um mandado por tráfico em aberto.

Traficante tem uma grave doença genética

Segundo o delegado Marcelo Martins, titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), Peixe é vítima de uma grave doença genética e hereditária, conhecida como Anemia falciforme — caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue. A doença, segundo especialistas, pode matar e requer, em alguns casos, transplante de medula. De acordo com o delegado, médicos também o atendiam na comunidade.

“Havia informações de que Peixe costumava deixar a comunidade para realizar tratamentos de hemodiálise chegou esta denúncia de que ele estaria em um condomínio na Barra”, detalhou o comandante do Bope, tenente-coronel Carlos Eduardo Sarmento, que participou da ação.

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