Por bianca.lobianco

Rio - Órfãs da Feira das Yabás, que não é realizada na Praça da Portela, em Madureira há cerca de três meses, três das cozinheiras resolveram se juntar para meter a mão no batuque e na cozinha. A roda de samba no Terreiro das Tias começa neste domingo, na Rua Adelaide Badajós, em Oswaldo Cruz, com homenagem a Chico Santana, malandro histórico da Portela, e presença confirmada de seu parceiro Monarco, padrinho da festa. A organização é de quem tem amor pela Azul e Branco e carrega a história do samba nas veias: Neide Santana, filha de Chico, Selma Candeia, filha de Antônio Candeia Filho, e Romana Antônia, representante do Império Serrano e ex-esposa de Ivan Milanez, bamba da Serrinha.

Com a foto do pai%2C Chico Santana%2C nas mãos%2C Neide puxa a roda junto com Selma Candeia e Romana AntôniaJoão Laet / Agência O Dia

"Nós contávamos com a Feira das Yabás, as pessoas que comiam da nossa comida também. Madureira  carece disso, agora a Praça Paulo da Portela fica às moscas. A gente pode fazer o que quiser, ninguém manda na gente", opinou Neide Santana. Dois dias depois da roda, seu pai completaria 104 anos. "Chico Santana está esquecido. A Portela está voltando agora a cantar seu hino, escrito por ele. Vamos homenageá-lo", promete a filha de Chico Traidor. "O apelido é porque ele vivia dando em cima das mulheres dos amigos. Seu Monarco conta que ele também era chamado de brinco, porque vivia pendurado nos ouvidos das moças", diverte-se.

Fiéis à tradição, as tias também fazem as contas para o futuro e querem transformar a roda em uma alternativa real à interrupção da Feira das Yabás. A próxima edição do evento que agitou Madureira está marcada para 13 de novembro, na Cidade das Artes. "O bairro precisa de eventos culturais. Aqui você só tem a Portela, que está agora recuperando seus componentes, e o Império Serrano, que precisa se reinventar", opina Selma Candeia, a favor da roda das tias como um evento para ajudar a 'bombar' o cenário cultural da Zona Norte.

O prato escolhido para abrir os trabalhos é típico das rodas que Candeia e Chico Santana participavam quando crianças: macarronada com frango. As tias explicam que o prato é tradicional desde a época de Tia Vicentina, irmã de Natal, braço forte da portela no começo do século 20. À Vicentina, a memória do samba lega o espaço de cozinheira de mão cheia, remanescente das tias da Praça 11, do "famoso feijão" eternizado na música de Paulinho da Viola. "Macarronada com franco encaixa mais fácil. O pessoal que era perto do samba tinha aviário, aí ajudava também", relembra Neide. "É a comida da bateria da Portela", conta.

Ainda sem convidado definido para outubro, a roda já está certa de receber Wilson Moreira em novembro. As tias enfatizam que a ideia é resgatar sambas daqueles que passaram pela rua Adelaide Badajós para fazer a feira e cantar a história do samba: Manacéa, Chico Santana, Rufino, cantados de forma acústica, 'no gogó'. "Nós somos as rebeldes das yabás", brinca Romana Antônia. "Nossa intenção é valorizar o que é nosso", resume a yabá, termo que na língua iorubá quer dizer 'rainha'. E hoje as rainhas abrem o terreiro.

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