Rio - Uma criança de 11 anos foi morta a tiro ontem à tarde, durante confronto entre agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e traficantes da comunidade Parque Alegria, no Caju. Segundo informações de moradores, o menino teria sido atingido nas costas. Herinaldo Vinícius da Santana foi socorrido por populares para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo da Maré, mas não resistiu ao ferimento. A coordenação da UPA informou que Herinaldo chegou às 16h e que foram feitas manobras de ressuscitação.
Há informações de que o menino brincava em uma viela na comunidade quando foi atingido. Um vídeo feito por moradores mostra Herinaldo ferido no chão, já desacordado. Desesperado, um homem grita: “Morreu já.” Em seguida, ele é socorrido dentro de um carro preto e levado para a UPA. O DIA Online optou por não publicar a gravação pelo conteúdo muito forte.
Depois da morte do garoto, o clima esquentou na comunidade e moradores saíram para protestar nas duas principais vias expressas da cidade: a Avenida Brasil e a Linha Vermelha. Esta última chegou a ter o trânsito interrompido por 20 minutos, no início da noite de ontem. Motoristas relataram momentos de pânico e muitos abandonaram os carros após ouvir tiros. Motociclistas com medo de um arrastão, voltaram pela contramão.
Morador de Vila Isabel, o vendedor Gabriel Barreiro, 21 anos, contou os momentos de tensão. “De repente foi todo mundo parando e abrimos passagem para os carros da PM e do BPChoque. As motos voltavam pela contramão. Depois que abriu a pista, vimos bombas de gás e todo mundo ficou apavorado”, relatou Gabriel.
Agentes do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE) conseguiram liberar a via. No entanto, cerca de 30 minutos depois, manifestantes fecharam a pista lateral e a faixa reversível da Avenida Brasil, na altura de Benfica. Policiais militares, em resposta, lançaram bombas de efeito moral para dispersar o protesto na via. No Facebook e no Twitter, motoristas afirmavam que pedras eram lançadas da calçada da contra os carros. Não há informações de feridos durante a manifestação.
Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) vão ouvir familiares e os PMs envolvidos na ação. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) determinou a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a morte do menino.
Os agentes da UPP do Caju que patrulhavam o local onde o menor foi baleado serão afastados do serviço nas ruas e vão atuar em trabalhos administrativos. O confronto dos policiais foi com criminosos da facção Amigos dos Amigos (ADA), que ainda resiste à presença da UPP, que ocupa o Complexo do Caju desde 2013.
Quatro mortes de garotos
A morte de Herinaldo Vinícius foi o quarto caso de criança morta em tiroteio este ano. Em janeiro, Patrick Ferreira de Queiroz, de 11 anos, morreu no Morro Camarista Méier, no Lins. Em abril, Eduardo de Jesus Ferreira, 10, foi baleado e morto na porta de casa, no Complexo do Alemão, durante confronto entre policiais e traficantes. No início do mês, uma bala atingiu o peito de Cristian Andrade, 13, quando ele jogava bola num campinho na comunidade Manguinhos. Na época, O DIA revelou uma triste estatística do Ministério da Saúde: 50 crianças com menos de 14 anos foram mortas por agentes da segurança entre 2001 e 2012.
Perto do Caju, outro confronto deixou moradores assustados ontem. No Parque União, dentro do Complexo da Maré, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) trocaram tiros com traficantes da região. Ninguém ficou ferido. Depois do confronto, os agentes apreenderam 11 quilos de pasta base de cocaína. O material foi encaminhado para a 21ª DP (Bonsucesso).
