Por nicolas.satriano

Rio - As cenas de terror vividas por cariocas e turistas no último final de semana fizeram a Polícia Militar preparar um contra-ataque de peso para evitar novos arrastões. O planejamento prevê a colocação de um efetivo de cerca de 900 policiais na orla, número quase quatro vezes maior que o empregado semana passada.

Com o reforço — que deve contar ainda com representantes de outros órgãos públicos — a PM antecipa em três semanas o início da Operação Verão. A medida é uma estratégia para conter a ação de vândalos de pelo menos seis comunidades do Rio, entre elas, o Complexo do Alemão.

A polícia já trabalha na identificação dos menores e adultos que protagonizaram as cenas de roubos e quebra-quebra na Zona Sul. As investigações apontam que 60% dos grupos são das favelas do Jacarezinho, Manguinhos, Mandela, Arará e Mangueira, além do Alemão. Poucos são da Zona Sul.

'Me recuso a colocar assistentes sociais para dialogar com pessoas que tenham pedaços de pau na mão'Alexandre Vieira / Agência O Dia

Especialistas em segurança dizem que os ataques na orla desviam a atenção da polícia de outras duas situações críticas na cidade: o tráfico de drogas e as quadrilhas em guerra pelo controle territorial das comunidades. Tanto que, pelas redes sociais, muitas pessoas se articulam para outros ataques, falam de levar armas nas viagens rumo à praia em linhas de ônibus diretas das comunidades.

A reação da PM contará com homens dos batalhões de Choque e de Grandes Eventos circulando pelas areias em traje de praia. A ação também trará de volta os pontos de bloqueio no trajeto dos ônibus, mas dessa vez, com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que podem classificar se os jovens abordados na operação estão ou não em situação de vulnerabilidade.

“Faremos revistas em ônibus, carros e motos e os agentes da SMDS podem indicar se aqueles menores podem ser considerados vulneráveis. Nestes casos, serão encaminhados para casas de acolhimento. Já quem for flagrado praticando vandalismo ou desacatando, a quem quer que seja, será levado a uma delegacia”, afirmou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame. No verão passado, 730 menores em situação vulnerável foram acolhidos.

O prefeito Eduardo Paes, por sua vez, rebateu a fala de Beltrame no domingo sobre “possível omissão do desenvolvimento social”. “A autoridade policial tem que se impor. Não pode chamar jovem que sobe em teto de ônibus de vulnerabilidade social. Delinquente tem que ser tratado como delinquente”, ressaltou o prefeito.

Depoimentos

X. 18 anos, morador do Jacaré

A gente vai à praia zoar da mesma maneira que o playboy vai para o show de rock, para a boate. Cada um com seus problemas. A gente vai fumando maconha no ônibus, com o corpo para fora da janela. Eles vão fumando, cheirando, tomando droga de playboy no carro do pai.

Com o corpo fora da janela e zoando as prostitutas. Os que o pai não libera o carro, ou eles pegam escondido ou vão no ônibus fumando, cheirando e dando balão na roleta igualzinho a nós. A polícia não pega eles, mas quer pegar a gente. Tinha que pegar eles, que têm o que perder. A gente não tem nada. 

Além disso, tem gente que vai no bonde e não faz nada. Até porque quem faz sabe que está no erro. E se a polícia pegar, pegou. A revolta rola quando (a PM) pega moleque que não tem nada a ver. Uns vão para barbarizar, outros vão curtir a praia. E se pegar esses moleque, nego bola mesmo. E na praia, se ficar tirando onda de Iphone, de cordão, vai perder. E a gente pega para zoar, para tirar onda. Se a diversão deles é ir para a Disneylândia, a nossa é fazer deles a nossa Disneylândia.

Y. 50 anos, morador de Copacabana

Tenho 50 anos, sou nascido e criado em Copacabana e dou aula de jiu jitsu aqui e nos Estados Unidos. Sou contra esse negócio de juntar gente, formar milícia armada para pegar vagabundo, mas se tiver que pegar, eu pego mesmo. Não tem parada.

Outro dia mesmo vi um crioulo com uma bicicleta de R$ 2.500 e falei com a polícia que aquele preto não pode ter uma bicicleta de R$ 2.500. Ele é lá do Pavãozinho. Tô ligado nele. Mas a polícia não faz nada.

E se a polícia não faz, eu vou continuar fazendo. Outro dia vi um deles roubando um pedestre e quebrei. Sempre quebrei. Desde moleque. Sou da turma da Constante Ramos e cresci assim. Se vejo pivete, bandido, alguém roubando, vou lá e encaro.

Esses dias mesmo encarei uns dez. Eu e mais um. Ainda levei uma porrada com um pedaço de pau na cabeça, mas eu tenho corpo para isso e nem fez cócegas. Meu amigo perdeu os óculos, mas quebramos os dez. Mas não tem jeito. A gente pode continuar pegando, eles não param. A solução é uma só: polícia.


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