Rio - Eles participaram dos principais momentos, positivos e negativos, do calendário carioca dos últimos anos. Fosse nas manifestações de 2013, na Copa do Mundo ou em busca de entorpecentes durante incursões policiais, lá estavam os cães farejadores e controladores de distúrbios da Polícia Militar. Agora, a tropa formada por 68 animais e 196 homens do Batalhão de Ações com Cães (BAC) se planeja para o maior desafio dos seus 60 anos de história: a Olimpíada do ano que vem.
O ‘menu’ de desafios é vasto e, por isso, os treinamentos foram intensificados para coibir desde a entrada de explosivos em locais de aglomeração e deslocamento até ataques terroristas e sequestros com reféns. O trabalho prático já começou com o patrulhamento que estará presente em todos os 45 eventos-testes para os Jogos Olímpicos e intercâmbios feitos nos últimos anos com a polícia da França.
Do total de cães, os seis mais bem qualificados para o farejamento devem estar prontos e certificados por órgãos estrangeiros como “prontos” para o controle de ameaças, explica o major Rafael Sepúlveda.
“Nosso principal trabalho será a detecção de explosivos e controle de distúrbios civis. Faremos varreduras preliminares em pontos de competições, rodoviárias e para aonde mais formos convocados, com efetivo máximo”, afirma. Para tal, o BAC lança mão de metodologias diferentes, importadas de forças estrangeiras e até genuinamente brasileiras, como no caso farejamento de armas e drogas — cujo desempenho dos animais do BAC é considerado um dos melhores do mundo.
Treinados desde filhotes para distinguir o comportamento de sequestradores e reféns em situações extremas, os cães passam por simulações diárias sob a vigilância de veterinários e adestradores que minimizam qualquer trauma causado pela adrenalina. “Em uma situação limítrofe, a entrada do cão precede a da equipe tática, desviando a atenção do sequestrador e indo diretamente ao alvo”, explica o tenente Daniel Puga. Estudos mostram a incidência mínima de cães vitimados. Em 12 simulações acompanhadas pelo DIA, os animais tiveram 100% de aproveitamento no reconhecimento de supostos sequestradores.
Já o combate aos explosivos requer um trabalho de ‘quase monge’ dos cães. “O animal tem que ser mais controlado, não latir e não correr, para evitar incidentes e garantir a segurança da equipe que desmontará o explosivo. Por isso é um trabalho ainda mais árduo”, explica o major Sepúlveda.
Superação e recompensa
Um dos maiores desafios diários nas operações em favelas é a manutenção do foco dos animais. As dificuldades encontradas no caminho são muitas, como os ambientes impregnados com aromas de drogas e armas que se espalham pelo ar — e que podem dificultar a identificação pelos farejadores e, principalmente, animais como galinhas e cadelas no cio, criados à solta.
No último dia 17, foi alcançado o recorde de volume de drogas descobertas por um cão da unidade: 3,78 toneladas apreendidas na favela de Acari.
Raças escolhidas a dedo para melhor desempenho
?Atualmente, cinco diferentes raças de cachorros são treinadas para diversas finalidades e podem ser vistas a postos, nas ruas. São os labradores, considerados implacáveis farejadores, rotweillers e pastores alemães — quase sempre à frente dos controles de distúrbios urbanos, devido ao porte físico — e os versáteis pastores belgas e malinois, considerados cães perfeitos por unirem velocidade, boa capacidade de faro e uma mordida que pode chegar a 108 quilos de impacto.
Curiosamente, apesar de os cães premiados e a curva crescente de apreensões, a única compra de animais para o BAC foi em 1955, quando o trabalho com cães foi iniciado. “As cadelas costumam ser levadas para cruzar com animais premiados, de pedrigree, fora do Rio de Janeiro, a fim de perpetuar a excelência da linhagem”, explica o major Sepúlveda. Atualmente, o batalhão aguarda a compra de 30 cães, adquiridos em licitação já aberta pelo Governo do Estado.
Por essência, o BAC é um batalhão de apoio à ação de outras forças policiais. Talvez por isso, conte hoje com o menor efetivo humano entre todos os batalhões e não tenha veículo blindado à disposição. Cinco veterinários, especializados em reprodução, bioética e reprodução, engrossam a equipe que se encontra alojada no 16º BPM (Olaria).