Por thiago.antunes

Rio - Dulcinéia, Simone, Solange, Valéria e Vanda estrelaram matérias em todos os jornais após aquele 11 de setembro de 2000. As páginas ficaram amareladas, mas as primeiras mulheres maquinistas do Rio ainda pilotam os trens da SuperVia e fazem questão de guardar, orgulhosas, as lembranças de quando entraram para a história da ferrovia fluminense. Quinze anos nos trilhos de uma profissão que era “coisa de homem”, elas têm é história. Na terça-feira, elas comemoram o Dia do Maquinista.

O começo foi pra lá de inusitado. Dulcinéia Madeira, de 36 anos, era a única que sabia que ia concorrer à vaga de maquinista. As demais participaram do processo seletivo achando que iam atuar como técnicas de eletrotécnica e eletrônica.

Dos 300 maquinistas que trabalham da concessionária SuperVia%2C 70 são do sexo feminino atualmenteMárcio Mercante / Agência O Dia

“Deixei o currículo na agência para a vaga de técnico, e a funcionária nem queria aceitar, disse que estava destinada a homens. Eu falei: ‘Deixa ele aí mesmo, vai que pinta alguma coisa’. Me chamaram e só fui saber que era pra maquinista na hora de assinar o contrato!”, lembra, aos risos, Simone Nocetti, 45, que é craque pilotando trem, mas nunca dirigiu carro.

“Chegaram o presidente da SuperVia e uma assessora de imprensa informando que nós seríamos as primeiras e que ia ter uma repercussão”, conta Valéria Cristina Cerqueira, 36. “Ficamos assustadas! Quando começamos o treinamento, saiu uma nota pequenininha num jornal. No dia seguinte, tomou uma proporção enorme.”

Elas conquistaram o mercado e o respeito dos homens. Hoje, dos 300 maquinistas da concessionária, 70 são do sexo feminino. “Fomos contratadas para trazer sensibilidade e emoção à tração, que era área masculina”, diz Solange Fernandes, 47, promovida a supervisora de tração.

Novidade gerou espanto

Imagina qual foi a reação das famílias e dos homens que trabalhavam na SuperVia quando elas contaram a novidade de assumir a direção dos trens? Pior foram os apelidos. “Minha mãe achava estranho, falava que era profissão de homem, que não sabia o que eu estava fazendo aqui. Ela só repetia: ‘Quando xingarem a sua mãe, não sou eu’”, diverte-se Valéria, que foi apelidada de Piuí por alguns colegas.

A maquinista Vanda Rose Rodrigues, de 45 anos, diz que os homens que já trabalhavam na empresa tiveram reações diferentes. Das cinco, só ela já tinha experiência na área — era piloto no metrô. “Teve de tudo. Alguns não aceitavam, outros praticamente cuidavam da gente como se fôssemos filhas. Os que são mais zelosos nos adotaram. Tinham um carinho muito grande por nós.”

Amigas muito além dos trilhos

Depois de tantos anos convivendo juntas, as cinco maquinistas se tornaram amigas além dos trilhos. Todas acompanharam as conquistas pessoais e profissionais umas das outras. Dulcinéia, por exemplo, é madrinha da filha de Vanda. O chá de bebê de Valéria foi com as colegas no trabalho.

Cantada deve ser mesmo coisa de borracheiro, porque, nos trilhos, elas juram debaixo do trem que nunca receberam. Morrendo de rir, é claro, e mostrando as alianças. As maquinistas são tão vaidosas que se produziram todas para a matéria do DIA.

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