Por paulo.gomes
Rio - Às vésperas de celebrar o padroeiro da cidade, cariocas parecem ter que apelar o São Sebastião para enfrentar uma em vários serviços públicos afetados pela crise do estado. Nesta segunda-feira, dez postos do Detran ficaram fechados porque a Prol, empresa contratada pelo governo estadual, não fez o pagamento do pessoal terceirizado.
O serviço de limpeza da Baía de Guanabara também está sob ameaça, já que as três empresas que realizam o serviço estão há cinco meses sem receber. Até o Disque-Denúncia corre o risco de interromper seus trabalhos, depois de reduzir o expediente.
Durante cerimônia na porta da prefeitura%2C Dom Orani ouviu gritos de servidores insatisfeitos. Programação do santo padroeiro será na quarta-feiraSeverino Silva / Agência O Dia

Em greve há 15 dias, exigindo o 13º salário, servidores da Vigilância Sanitária estadual só realizam inspeções de emergência. Com isso, vistorias em unidades de saúde como clínicas e hospitais, e estabelecimentos de alimentação e beleza, podem ficar comprometidas.

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O motorista X, que não quis se identificar, reclamou do atendimento no posto do Detran na Barra. Ele saiu de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e terá que retornar à Zona Oeste para pegar o documento da vistoria, que geralmente é entregue até na hora. “Trabalho com o meu veículo e nem sei o que vou dizer se for parado. Mas falaram que não podiam entregar no dia porque estavam trabalhando com equipe reduzida”, contou.
Nesta segunda, muitos funcionários da Prol teriam sido ameaçados caso paralisassem a atividade nos postos de carteira de habilitação. Para evitar protesto, a empresa teria apresentado nova data para o salário de dezembro: quinta-feira, dia 22. Mesmo com a promessa, postos ficaram cheios. O Detran informou que está em dia com o pagamento da Prol e mantém contato com a empresa para que regularize os salários dos funcionários o quanto antes. Procurada pela reportagem, a Prol não se pronunciou até o fechamento da edição.
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O Disque-Denúncia, que em 2015 ajudou a prender 633 pessoas e autuar outras 233 no Rio, está à espera do repasse de R$ 1,563 milhão desde agosto. Para tentar cortar gastos, as operações foram reduzidas. Desde o início do ano, os atendimentos, antes 24h, são feitos apenas das 7h30 às 23h30, de segunda a sábado. Também está prevista redução da equipe e no oferecimento de recompensas, que já chegaram a R$ 50 mil. A Secretaria estadual de Planejamento e Gestão ainda não tem previsão para o pagamento.
Em 20 anos, o Disque-Denúncia recebeu mais de 2,2 milhões de denúncias. Em 2015, foram 107.226 informações que, além de levar a prisões e autuações, ajudou na apreensão de 274 armas - entre fuzis, revólveres, pistolas, escopetas e espingardas. Foram apreendidos 106 rádios transmissores, 91 veículos, 2.562 munições e 1.133 máquinas caça-níquel. O montante em espécie, encontrado com os criminosos durante as operações, somaram R$ 35.988,65. 
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Servidores da prefeitura vão se queixar ao arcebispo
Nunca a expressão “vá se queixar ao bispo” — cunhada na época do Império — esteve tão atual. Com cartazes e carro de som, cerca de 100 servidores municipais aproveitaram a chegada da imagem peregrina de São Sebastião à sede da prefeitura, na Cidade Nova, para cobrar a reestruturação do plano de carreira dos servidores, auxílio-refeição de R$ 600, aumento de salários e concurso público com nomeações imediatas.
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Presidida pelo cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, a oração da trezena de São Sebastião — que marca as celebrações pelo padroeiro do Rio — foi entrecortada por gritos como “Queremos nosso zoológico”, “Salve a saúde”, e “Maria da Penha”, em referência ao episódio de agressão contra a ex-mulher, protagonizado pelo secretário municipal de Governo, Pedro Paulo Carvalho.
O secretário estava ali, ao lado do prefeito Eduardo Paes, e também segurou a estátua do santo protetor da cidade, mas não se pronunciou sobre o protesto. 
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O Sindicato dos Servidores Públicos do município (Sisep) negou incentivar gritos durante a oração. “Desligamos os carros de som e pedimos silêncio em respeito à cerimônia”, afirmou o diretor jurídico do Sisep, Frederico Sanchez. “Essa cerimônia é uma ofensa à religião. Quem está ali batendo palma deve ser comissionado”, acusou a servidora Rosa Silva, 50.
Os servidores também aproveitaram para criticar a municipalização de dois hospitais da Zona Oeste e o fechamento do Zoológico. “Nós, cariocas, crescemos com o zoológico, e o prefeito praticamente admitiu que o deixou falir”, disse o estudante Bernardo Gomes, de 26 anos.

Sanchez espera ser recebido por Eduardo Paes para uma reunião. “Precisamos de uma saúde pública decente. A prefeitura deve investir nas suas próprias unidades para só depois pensar em colaborar com o estado, além de olhar menos para as Olimpíadas e mais para os servidores. Nós estamos aqui para negociar”.

Críticas a OSs em hospitais

Cerca de 60 pessoas protestaram em frente à sede da Secretaria de Estado de Saúde, no Centro, contra a municipalização dos hospitais Albert Schweitzer, em Realengo, e Rocha Faria, em Campo Grande. Funcionários da Vigilância Sanitária também pediam a segunda parcela do décimo terceiro e melhores condições de salário para a categoria. O deputado Paulo Ramos e o vereador Paulo Pinheiro participaram do protesto.

Postos do Detran fecharam desde sábado porque terceirizados reclamam que não recebem pagamentoAgência O Dia

“Há trabalhadores sendo expulsos de seus cargos. Estão proclamando o fim dos concursos públicos e do serviço estatutário. É um desrespeito absurdo!”, disse André Ferraz, conselheiro da Associação dos Servidores da Vigilância Sanitária (Asevisa).

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Não faltavam críticas à contratação das Organizações Sociais (OSs), já condenada pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do Município (TCM). “Nossa manifestação é em apoio aos hospitais que foram municipalizados a toque de caixa, sem qualquer negociação com o Conselho Estadual de Saúde e ou discussão com os servidores”, afirmou Alex Ferraz, um dos organizadores. A Assembleia Legislativa do Rio anunciou ontem que fará uma devassa nas contas das OSs.
Para o sanitarista Reginaldo Ferreira, de 57 anos, a crise na saúde não é apenas uma fatalidade. “A situação a que o estado chegou não se deve aos royalties do petróleo ou falta de verba. É fruto de uma política de desvio para a iniciativa privada”.
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Ambulâncias quebradas e limpeza na Baía em risco
O quartel do Corpo de Bombeiros, em São Cristóvão, passou a dividir espaço com ambulâncias do Samu quebradas. O reparo, que é feito na unidade desde novembro, estaria atrasando a entrega de veículos próprios dos bombeiros para quartéis da corporação, segundo uma denúncia feita pelo grupo virtual SOS Bombeiros RJ.
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De acordo com o site, faltam ambulâncias desde os primeiros dias do ano no Campinho, Méier e Fundão. Em Ramos, uma das duas está parada. Na Ilha, o veículo de emergência está sem ar condicionado e com o documento vencido desde 2014. O Corpo de Bombeiros nega que a nova demanda estaria prejudicando a frota e garantiu que conta com infra-estrutura e funcionários capacitados para absorver as operações.
As empresas responsáveis pelos ecobarcos que fazem a limpeza da Baía de Guanabara afirmam que o serviço está sendo prestado normalmente. A Secretaria Estadual do Ambiente diz que o dinheiro deve chegar apenas no fim de fevereiro. Somente com a Pro Oceano, a dívida é de cerca de R$ 500 mil.
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Para festejar
A programação para festejar o padroeiro do Rio segue até quarta-feira, quando termina a tradicional Trezena de São Sebastião. Um esquema especial de trânsito foi montado para hoje e amanhã, para a passagem da procissão no Centro e adjacências. A partir das 22h desta terça até 1h do dia 21 a Avenida República do Chile será interditada em dois trechos — entre Rua do Lavradio e Rua Senador Dantas e Avenida Rio Branco e Rua do Lavradio, pista sentido Avenida Rio Branco.
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Na quarta, Dom Orani Tempesta celebra missa às 10h, na basílica menor da Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos, na Tijuca. A procissão sairá às 16h do local e seguirá por Estácio, Rua Frei Caneca, Túnel Martins Sá, Praça da Cruz Vermelha, Avenida Henrique Valadares, Rua da Relação e Avenida Chile, chegando à Catedral Metropolitana, na Lapa, por volta das 17h30. Ali será encenado o auto de São Sebastião e Dom Orani faz a bênção da cidade e celebra a missa solene de encerramento.
Reportagem de Amanda Raiter, Tássia di Carvalho e da estagiária Clara Vieira