Por tabata.uchoa
Rio - Eram quase 2h da madrugada da última quarta-feira quando o taxista Antônio Gadelha, de 47 anos, virou à direita e ligou o pisca-alerta na saída da Linha Vermelha que desemboca no bairro de São Cristóvão. Encostado no capô, olhou para a multidão de mais de 20 mil pessoas sob ele, fitou outro milhar de gente na continuação do viaduto e sorriu, cantando junto com Wesley Safadão. 
“Ele é o meu contato com minha terra. Vi esse menino pequeno, lá em Fortaleza, fazendo show dentro da feira, e agora é isso aí”, afirmou o motorista, já dirigindo, após os 20 minutos de show a que se permitiu. “Isso aí” a que se referiu Antônio foi a histórica apresentação de Wesley Safadão na Feira de São Cristóvão na última semana, tido como um dos maiores eventos já realizados no pavilhão.
Grupo de amigas aproveitou a visão privilegiada que tinha de cima do viaduto para caprichar na selfieAlexandre Brum / Agência O Dia

De famílias humildes saídas do Vidigal, até a galera ostentação de Jacarepaguá, passando por nordestinos e seus filhos nascidos cariocas, Safadão botou uma multidão de todas as cores, bolsos e credos para dançar.

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Minutos antes do show, uma pequena multidão se aglomerou na porta do camarim do artista, um dos mais bem pagos do país, cujas exigências pré-show foram frutas, um sofá, espelho e carne de sol. Aos fãs, selecionados previamente pela produção, caberia a chance de entrar no espaço, trocar uma ou duas palavras e tirar uma selfie.
A pulseira de acesso ao camarim foi distribuída também aos amigos da organização, fato que causou um festival de frases como “você sabe com quem está falando?”, ou “sou amigo de fulano”, na tentativa de burlar regras definidas às pressas pela produção e chegar perto do ídolo.
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Safadão, como ele mesmo disse durante o show, já fizera outras apresentações na feira. Nenhuma, porém, daquela magnitude. Apesar de marcada para 0h30, o cantor entrou no palco cantando Camarote, seu maior sucesso, às 0h23. Aí, as entradas não deram conta do alto fluxo de gente: houve tumulto, furtos, gente com ingresso do lado de fora. Em seu show de improviso costumeiro, o carioca subiu a Linha Vermelha e, mesmo sem ‘gela e ciroc’, foi para o viaduto ter uma visão privilegiada. “Eram só dois seguranças e eles começaram a correr no meio da confusão”, disse, já aos risos, Taiane Lima, 27, que saiu de São Gonçalo e aproveitou a vista privilegiada para caprichar nas selfies.
O lema é só sair de casa para ‘causar’
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É claro que a vida já agitada do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas sofreu alteração, graças à passagem do furacão Wesley Safadão. Mas a vida própria do lugar seguiu, entre trios de forró pé-de-serra, comidas típicas e karaokês. “Safadão? Aqui não têm música dele não”, contou Marcos Alexandre, 46, que de segunda a sexta-feira vai ao Pakarioka cantar Evaldo Braga, Amado Batista e Raça Negra. 
Embevecida pela pirotecnia usada por Safadão em um DVD exibido na tela na feira, a peruana Lilian Rodriguez, 62, tentava entender a melodia. “Ainda não conheço ele (sic) bem, mas pelo visto... O pessoal gosta”.
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As amigas Mariana Ferreira, 34, Diana Fernandes, 31, e Mariana Velasco, 29, faziam parte desse “pessoal”. Em ritmo de Carnaval, elas homenageavam “aquele” 1% do qual fala uma das músicas mais aguardadas.
Mostrando que além dos fãs fervorosos, Safadão chama quem tem espírito de “zoeira”, elas estavam com uma auréola de anjo na cabeça e uma faixa vermelha na coxa. “A gente tem até uma hashtag, só saímos de causa para causar. No Rock In Rio, fomos de Katy Perry”, entregou Mariana.