Por gabriela.mattos
Rio - Apavorados com o aumento de casos de dengue, zika e febre chikungunya, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, condomínios cariocas têm recorrido a serviços privados de fumacê. Segundo uma empresa do ramo, o trabalho praticamente dobrou em três meses. “Aumentou muito. Em novembro, fechamos 60 contratos. Em janeiro, foram mais de 110”, afirmou Bianca Bliner, do setor de vendas da Systemvet.
Em nota, o Instituto Estadual do Ambiente do Rio (Inea) informou que as aplicações do tipo fumacê são procedimentos eficazes para provocar redução rápida de uma população de mosquitos adultos, que infestam determinada área. “Podem ser feitos por empresas particulares ou pelas secretarias de saúde, desde que estejam devidamente licenciadas”, explicou.
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A medida, segundo especialistas ouvidos pelo DIA, é questionável. “O fumacê, se não for usado de forma correta, atrapalha mais do que ajuda”, explicou Marcos Vinícius Ferreira, coordenador de Vigilância da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Dependendo do produto usado, o mosquito acaba ficando mais resistente.
Condomínios contratam empresas privadas para combater focos do Aedes AegyptiJoão Laet / Agência O Dia

“Pulverizar ambientes indiscriminadamente não é eficiente. É mais sensato combater os focos nas casas e apartamentos”, defende o doutor em Infectologia Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio (UFRJ), afirmando que a fumaça tem efeitos colaterais. “Além do mosquito adulto, mata as borboletas, as joaninhas, as flores”, afirma.

Paulo Serafim Fernandes Pereira, síndico do Condomínio Milão, que conta com 90 apartamentos e lojas comerciais na Tijuca, contratou o serviço privado de fumacê por R$ 180 cada aplicação. “Existe uma preocupação geral das pessoas em contrair a doença. Eu não posso obrigar uma vistoria na casa de ninguém para verificar se existe água parada em vasos de plantas ou qualquer foco do mosquito. Mas em relação às partes comuns do condomínio eu tenho responsabilidade”, justificou.
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Nesta terça-feira, o Sambódromo e uma área de 80 quilômetros em seu entorno receberam as primeiras pulverizações de inseticida . A ação será repetida semanalmente até a véspera de Carnaval, no período da manhã. O serviço retorna após o desfile das campeãs. Cerca de oito a 15 agentes vão participar dessa varredura na Marquês de Sapucaí para conferir se há resquícios de água parada e focos do mosquito. As instalações olímpicas, ainda em fase de conclusão, começam a ser monitoradas a partir de abril.
Pernilongo também traz zika?
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A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco está pesquisando se o pernilongo ou muriçoca (Culex) também transmite o Zika Vírus, que provoca a zika, doença associada a casos de microcefalia registrados no Brasil. A suspeita é preocupante, uma vez que esse mosquito é muito mais comum no Brasil do que o Aedes aegpty e tem hábitos diferentes do transmissor da dengue.
“O mosquito que é considerado o principal vetor é o Aedes. O Culex a gente está testando pela primeira vez, ninguém nunca testou”, destacou a pesquisadora e vice-diretora de ensino da Fiocruz, Constância Ayres. Ela iniciou a pesquisa em outubro de 2015. O resultado comprovando ou descartando a transmissão pelo pernilongo deve ser divulgado em três semanas.
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A celeridade da doença, que começou com um caso na Bahia em maio do ano passado e já está presente em 20 estados, levou a Fiocruz a pesquisar se essa transmissão é possível. A Fundação também conduz estudo sobre a coinfecção — quando em uma mesma picada o mosquito passa mais de uma virose, como dengue e chikungunya, por exemplo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já lançou alerta sobre a proliferação do Zika Vírus no continente americano.
Suspeita de dengue sobe cinco vezes
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O registro de casos suspeitos de dengue no Estado do Rio multiplicou por cinco, em apenas duas semanas. Segundo dados da Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental, da Secretaria de Estado de Saúde, até 12 de janeiro eram 661 casos. O boletim divulgado ontem relatou 3.954 registros.
As notificações foram compiladas a partir de dados inseridos no sistema pelos municípios de todo o estado. Comparado com o mesmo período de 2015, quando foram verificados 2.584 registros de casos suspeitos, o aumento foi de 53%.
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O levantamento também revela que a quantidade de pessoas que morreram por causa da dengue em 2015 — 23 óbitos — foi o dobro do verificado em 2014: 11 óbitos. Em todo o ano de 2015, foram 69.516 casos suspeitos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já aprovou a vacina contra os quatro tipos de dengue. Entretanto, ainda não há previsão de quando o medicamento será liberado para a venda. A vacina é produzida pela Sanofi-Pasteur, a divisão de vacinas do laboratório francês Sanofi-AventisFarmacêutica Ltda.
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Apontada como eficaz contra a dengue, a vacina, porém, não imuniza contra outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como zika vírus e febre chikungunya.
?Colaborou a estagiária Julianna Prado