Rio - O domingo no Rio foi de muito trabalho, prejuízo e dor para moradores de bairros atingidos pelo temporal da noite de sábado. Cinco pessoas morreram vítimas da chuva. Da Zona Norte à Zona Sul, foi difícil achar lugar sem estrago ou transtorno. As mortes ocorreram em Rocha Miranda, Centro e Rocinha e Chácara do Céu, no Leblon. Carros amanheceram empilhados, levados pela correnteza. Motoristas e pedestres ficaram mais de quatro horas ilhados. Moradores e comerciantes perderam móveis e eletrodomésticos. Cenas que o Rio imaginou estar livre.
Na Chácara do Céu, dois moradores foram levados pela enxurrada ao tentar derrubar parte de um muro que represava água e evitar que ela atingisse residências. Uma das vítimas é Luciano Modesto, o Tico, de 38 anos, um dos moradores mais queridos da Chácara do Céu. Era filho do presidente do bloco Empurra Que Pega, Luiz Modesto. A outra vítima foi identificada só como Francisco, o Light.
“Morreram como heróis, tentando fazer com que a água não fizesse vítimas na comunidade”, disse um dos amigos de Luciano, que pediu para ser identificado só como Nei. Na Rocinha, o corpo de Carlos M. Silva, 58 anos, foi encontrado num córrego na Estrada da Gávea. Em Rocha Miranda, o corpo de Luiz Carlos de França Cancio, 57 anos, foi encontrado no início da tarde. Estava desaparecido desde a véspera. A quinta vítima fatal foi Edson Conceição, 39 anos, que já chegou morto ao hospital. Foi eletrocutado na Rua do Passeio.
Chamou a atenção o alagamento na região da Praça da Bandeira e da Praça Niterói, na Grande Tijuca. Os piscinões construídos para evitar enchentes não foram suficientes para impedir que moradores e comerciantes perdessem tudo mais uma vez.
O professor homenageado da formatura de uma turma do Pedro II, morador da Tijuca, só conseguiu chegar à festa com quatro horas de atraso: “Cheguei quando estava quase amanhecendo. Tomei o café da manhã com os alunos”, lamentou o professor José Paulo Antunes.
O prefeito Eduardo Paes explicou que o sistema de controle de enchentes da Grande Tijuca ainda não está operando normalmente. O reservatório da Praça Vanhargen, que armazenará 43 milhões de litros de água, ficará pronto no segundo trimestre. O prazo é o mesmo para as obras de desvio do Rio Joana, cujas águas passarão a desaguar direto na Baía de Guanabara, e não no Canal do Mangue, responsável pelo escoamento de três rios. Sem a conclusão das obras, o sistema não funciona plenamente, segundo Paes.
“A Praça da Bandeira foi fechada ao trânsito antes de vazar. Monitoramos o piscinão, e ao atingir 70% da capacidade, bloqueamos o acesso à praça. Tem plano de contingência. Tem situações que você não consegue fazer parar de encher”, disse Paes.
Cidade ficou em estado alarmante
O Sistema de Alerta e Alarme Comunitário da prefeitura foi acionado ontem em 40 comunidades onde havia risco de deslizamento.
A cidade ficou ontem em estágio de atenção, segundo degrau na escala de risco que vai até três. Indica previsão de chuva moderada, ocasionalmente muito forte, podendo causar alagamentos e deslizamentos. Na noite de sábado, o Rio ficou no estágio mais alarmante, o de crise.
Segundo o Corpo de Bombeiros, houve desabamentos sem vítimas nos morros da Mangueira, Turano e Salgueiro. O Aeroporto Santos Dumont operou ontem com auxílio de instrumentos. Na Tijuca, uma faixa da Rua Marechal Trompowski foi interditada para corte e retirada de árvore que caiu.
Chuvas até quinta-feira
A previsão do tempo do sistema Alerta Rio indica mais chuvas na cidade, mas ainda sem risco de tempestades como a de sábado. A temperatura permanecerá estável nos próximos dias.
Hoje, a estimativa é de chuva fraca a moderada, isolada nos períodos da tarde e noite, e amanhã a qualquer momento. Pancadas também estão previstas para a quarta e a quinta-feira.