Por thiago.antunes
Rio - Uma orquestra de enxadas, um ex-jogador de futebol francês e uma antropóloga especializada na história do negro na América Latina. Três pessoas que parecem de universos tão distintos são alguns dos professores que já passaram pela Universidade das Quebradas (UQ), curso da UFRJ, que recebe inscrições até este domingo.
Opúblico-alvo são artistas e ativistas das periferias cariocas. “Nosso foco são os produtores não são atendidos por projetos culturais e sociais, mais focados em jovens”, afirma Heloísa Buarque de Hollanda, uma das cordenadoras do curso.
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A ideia para as Quebradas surgiu quando a atriz Numa Ciro fazia uma tese sobre crônica poética do rap paulistano e era orientada por Heloísa, que já vinha pensando em maneiras de levar a periferia à universidade. “Comecei uma troca de saberes: eles me informavam o que sabiam sobre hip hop, e eu os orientava em arte e literatura”, conta Numa. A ideia deu certo e seis anos depois contabiliza mais de 400 produtores culturais formados. “Escolhemos pessoas consolidadas, que possam estabelecer diálogo horizontal com a academia”, complementa Heloísa.
O cantor Ludi%2C a cineasta Sandra e o produtor Igor%3A alunos da QuebradasDivulgação

A metodologia é mutável e faz com que mesmo após formados, muitos quebradeiros (como são chamados os alunos) continuem frequentando os encontros semanais, às terças-feiras, no Fundão. A visibilidade para trabalho que desenvolve em Duque de Caxias, foi a conquista de que a pedagoga Fabiana Silva mais se orgulha.

“Passar pelo curso fez com que visse que o meu trabalho está modificando vidas e eu não tinha me atentado para isso”, vibra ela, que fez contatos e acabou ganhando dois prêmios. “Através da Universidade das Quebradas fui indicada ao Prêmio Baixada Fluminense por dois anos seguidos.”
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A cineasta Sandra Lima, moradora de Rio das Pedras, também sabe o que é ter uma guinada em sua carreira, após fazer o curso, em 2012. “Ele une os artistas. Lá, formei várias parcerias”, afirma ela que ganhou na quinta-feira o edital Favela Criativa, com um prêmio de R$ 50 mil para produzir um documentário sobre Rio das Pedras. “Fiz o projeto com dois quebradeiros, um deles conheci lá.”
Se após a visibilidade e as parcerias foram o que Fabiana e Sandra mais gostaram, a possibilidade de defender suas ideias nos debates que seguem as aulas foi o que mais atraiu a artista plástica Jussara Santos. “Fiquei desinibida, aprendi a falar em público.”
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Ano começa com maior carga horária, poesia e teatro
Para este ano, a equipe da Universidade das Quebradas está preparando uma grade diferente. “Teremos oficinas de escrita ficcional e poética”, conta a professora Heloísa Buarque de Holanda, que afirma que os alunos terão mais tempo para discutir seus projetos, gerando ainda mais integração. “As aulas serão o dia inteiro, completamente imersivas.”
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Para Heloísa, o curso é um grande agregador na vida e na carreira dos participantes. “Certamente as aulas potencializam o pensamento crítico e discursivo sobre suas produções” avalia. “É notório que eles ganham uma significativa ampliação de repertório cultural, além de facilidade de expressão”, finaliza.
“O Coletivo de Artes das Quebradas vai incrementar suas oficinas teatrais com uma montagem da peça ‘O Banquete de Platão’, em versos escrito por mim”, complementa a professora Numa Ciro, que adianta que a primeira aula do semestre será sobre o filósofo grego. “Os quebradeiros já estão lendo o texto durante as férias. Nas oficinas, trabalharemos as diversas formas de encenação”. História do teatro e práticas de performances da fala e expressão corporal também estão na lista de disciplinas. As inscrições podem ser feitas no www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br/.
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