Por nicolas.satriano

A aposentada Sandra Barcellos, 41, mudou seus hábitos após descobrir que era doente renal crônica, há mais de 15 anos. Ela passou a acordar cedo pelo menos três vezes por semana para fazer sessões de hemodiálise na Clínica de Doenças Renais (CDR) de São João de Meriti. No entanto, o atendimento dela e de mais 240 pacientes está ameaçado. O serviço pode ser interrompido devido ao atraso no repasse pela prefeitura dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). O problema é o mesmo na unidade de Nova Iguaçu, que atende 450 pessoas.

A quantia ultrapassa R$ 4 milhões em débitos atrasados de Meriti e de Nova Iguaçu. A Associação de Doentes Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro (Adreterj) entrou com mandado de segurança contra as duas prefeituras, a fim de evitar a suspensão dos serviços. “Não podem usar uma verba carimbada como um cobertor curto, para cobrir um lado e descobrir o outro. É um erro administrativo gravíssimo que pode provocar morte de centenas de pessoas”, acusou o presidente da Adreterj, Gilson Nascimento.

Ele afirmou ainda que não há estrutura na região para realocar os doentes, caso o serviço seja paralisado. “Se isso acontecer, muita gente vai sofrer. Se tiver morte, a culpa será dos prefeitos, porque até agora não falaram nada. Podiam pelo menos tentar um acordo e parcelar a dívida”, sugeriu Nascimento.

De acordo com o administrador da CDR de São João de Meriti, Luiz Claudio Gonçalves, a prefeitura pagou agosto somente em fevereiro. Segundo ele ,95% dos pacientes atendidos pela unidade são pelo SUS e os outros 5%, de planos de saúde e convênios. “A intenção não é interromper o tratamento pelo SUS, mas do jeito que está, fica difícil continuar. Não vamos fechar, mas vai chegar um momento que teremos que dar prioridade para quem tem plano de saúde”, ressaltou.

Sandra faz sessões de hemodiálise três vezes por semana%2C na CDR de Meriti. Administrador Luiz Claudio diz que último pagamento foi feito em agosto Carlos Moraes

Moradora de Meriti, a aposentada Sandra Barcellos transplantou o rim há seis anos, mas teve rejeição três anos depois e voltou às sessões de hemodiálise. “Se parar de atender vai ser muito difícil conseguir um outro lugar. Será a morte. O prefeito não recebe a verba, por que não repassa?", indagou Sandra.

“SE A CLÍNICA FECHAR, VAMOS MORRER”

Prefeitura de Meriti culpa atrasos do SUS. Já a de Nova Iguaçu acusa gestão anterior

O  morador de Nova Iguaçu Claudio Silva Ribeiro está na fila para ser transplantado. Ele está apreensivo com a situação: “Se a clínica fechar, onde vai colocar todo mundo? A gente precisa daqui para sobreviver. Se fechar, vamos morrer. Não podem fazer isso com a gente”, frisou Cláudio Ribeiro.

A Prefeitura de São João de Meriti disse que os pagamentos não estão em dia devido aos atrasos dos repasses do Governo Federal. Segundo o órgão, janeiro do ano passado foi depositado pelo Ministério da Saúde apenas em março. Já os valores de novembro e dezembro foram repassados em janeiro deste ano, e o de janeiro foi quitado agora em março. A prefeitura também alegou o atraso na emissão das notas fiscais por parte da CDR. A prefeitura não soube precisar quando irá efetuar os pagamentos atrasados.
Já a Prefeitura de Nova Iguaçu informou que os repasses às clínicas renais referentes a serviços realizados na atual gestão estão em dia. Segundo o órgão, existem duas parcelas de 2012 não quitadas do governo anterior. A prefeitura se colocou à disposição para buscar um acordo.

Sobre a possível paralisação dos serviços da CDR, a prefeitura disse que caso seja necessário vai contratar outras clínicas ou ampliará o serviço de hemodiálise do Hospital Geral da Posse.

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