Por tabata.uchoa

Rio - Presente em diversos municípios fluminenses, porém, em número menor que no passado, a tradicional folia de reis deve ser incluída em breve entre os bens culturais do país. O projeto de tombamento do festejo de origem portuguesa como patrimônio imaterial brasileiro está sendo analisado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No Estado do Rio, apenas o jongo, o samba, a capoeira e a Festa do Divino de Paraty fazem parte da lista. De acordo com o Iphan, virar patrimônio imaterial atrai uma série de benefícios para um movimento cultural. Além do título, que o torna conhecido nacionalmente, o movimento se renova e abre as portas para ganhar mais incentivos do poder público ou da iniciativa privada.

Em Levy Gasparian%2C a folia Estrela do Oriente é a única que ainda se mantém. Em Itaperuna%2C já são noveDivulgação

Mistura de festa com ritual religioso, a folia ganha novo impulso para resgatar sua força. Recentemente foi dado início um projeto para difundir o movimento como importante expressão da cultura popular do Noroeste Fluminense. O “Folias de Reis do Mundo Contemporâneo”, realizado pelo Sistema Firjan, em parceria com a Uerj, leva até o dia 31, no Teatro Sesi Itaperuna, atividades como exposição de máscaras, palestras e oficinas para confecção de máscaras e colagem de fantasias.

O festejo representa encenações feitas por grupos de devotos dos três reis magos que visitam Jesus Cristo logo após o seu nascimento. A peregrinação percorre cidades, vilas e povoados, visitando casas e cantando suas profecias, versos baseados em textos bíblicos, em frente a presépios, oratórios ou imagens de santos. Mas não é apenas no período de Natal até o dia de São Sebastião (20 de janeiro), passando pelo Dia de Reis (6 de Janeiro), que o movimento se destaca. Ao longo do ano, os grupos se apresentam em eventos e festas religiosas, inclusive fora do estado. Na próxima quinta-feira, em Itaperuna, acontece o encontro das nove folias da cidade.

“Antes, eram 19 grupos”, lembra Paulo Hernande Ferreira, o Paulo Feitiço, de 60 anos, há 38 como mestre da Folia Nossa Senhora de Lourdes, de Itaperuna. “A folia representa para mim uma moda antiga de cultura. É como missão, como se o fosse começo do meu mundo, uma devoção. Eu sigo a palavra de Deus, do nascimento ao padecimento. Quando estou nas festividades me sinto muito bem, me sinto vivo”, conta.

Estudo vem desde 2008, diz Inepac

A partir de um encontro estadual de folias, realizado em 2008 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural (Inepac), foi criada a publicação “Folias de Reis Fluminenses – Peregrinos do Sagrado”, que reúne mais de 200 grupos mapeados desde 1975 pelo órgão. Esse acervo serviu como base para o Inventário Nacional de Registro Cultural, realizado pelo Iphan. Foram identificados grupos em cidades como Duque de Caxias, Belford Roxo, Volta Redonda, Nova Friburgo, São Fidélis, Cardoso Moreira, Levy Gasparian, Vassouras, Valença, Duas Barras e Rio das Flores.

Professora e pesquisadora da Uerj, Cascia Frade diz que a folia de reis é seu objeto de estudo profissional e pessoal. “É uma forma de transmissão do conhecimento fora da escola. Esse movimento tem importância afetiva para mim, porque eu gosto e me identifico muito com esta forma de religiosidade. Como acadêmica, é meu instrumento de trabalho. Vejo que consegui transformar uma ocupação profissional em prazer”, diz ela. Não é para menos. “Enquanto a maioria das pessoas durante o 31 de dezembro está na praia bebendo champanhe, estou no interior, acompanhando a folia de reis”, conta.

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