Por tabata.uchoa

Rio - O agito de moradores de todas as idades que corta o silêncio da noite em torno da antiga estação de trem da pequenina Aperibé parece mais uma cena corriqueira de interior. Mas é o final feliz de uma história de sucesso que inspira a luta pela preservação do patrimônio histórico. Desativada em 1984, a míúda estação se tornou um dos museus mais vivos do estado, aberto todos os dias, das 7h às 22h.

O renascimento é fruto da persistência do professor de História Marcelo Hungria, 44 anos. Em 1996, ele começou a estimular alunos do Ensino Médio a fazer exposições itinerantes de objetos e histórias locais. O interesse foi tão grande que, em 2007, a Secretaria de Educação cedeu sua sede — a estação — para a criação da Casa de Cultura de Aperibé. De doação em doação, o pequeno e bem sucedido museu chegou a 2.500 peças como armas, fotos, móveis, roupas, rádios, telefones e ferramentas de trabalho rural. Sem contar os documentos.

Desativada em 1984%2C a estação agora fica aberta diariamente e expõe peças doadas pela própria populaçãoAziz Filho / Agência O Dia

“A um pai não se pergunta de qual filho ele mais gosta. Eu não sei dizer qual é minha peça preferida”, esquiva-se o professor, hoje diretor-presidente do centro cultural. Entre as preciosidades está o recibo de compra, por um fazendeiro, de uma escrava com 30 anos vinda de Santa Maria Madalena.

Triste como todo preservacionista diante da destruição das construções antigas, ele conta que quase teve um infarto há dois anos, quando a Igreja Batista derrubou um prédio centenário, uma das últimas heranças centenárias da cidade.

O péssimo exemplo vinha de outra igreja, a católica. Em 2001,a Diocese de Campos autorizou a demolição da matriz de Aperibé. No lugar foi erguido um templo modernoso que nem cara de igreja tem. “Fiquei até de mal do padre”, lembra o professor. Como prêmio de consolação, ele conseguiu levar o grande sino de bronze para o o centro cultural.“Essa destruição precisa parar. O interior precisa descobrir que sua maior riqueza está sendo destruída”, alerta.

O diretor tem uma boa notícia. O letreiro que identifica o centro cultural — e, de certa forma, descaracteriza o prédio — está com os dias contados. “Ele já cumpriu a função de atrair e agregar. Agora todos já sabem que é aqui.” Sabem mesmo. O burburinho em torno da estação segue noite adentro.

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