Por felipe.martins

Rio - Rondinelli Luiz, 46 anos e pescador desde os 12, é dono de duas embarcações em Angra dos Reis, na Baía da Ilha Grande. Aprendeu o ofício com o pai e o avô que, aos 86, ainda tira seu sustento do mar. A crise que vem assustando os brasileiros é sentida apenas de leve pelo setor pesqueiro da cidade, maior produtora de sardinha do Brasil. “Só sentimos a crise aqui porque o combustível e a energia aumentaram. Mas temos tido muita fartura de peixes no mar, o que tem compensado”, diz Rondinelli.

Ele conta que não está rico, mas vive confortavelmente. Tem três filhos adolescentes. O mais velho já está se interessando por esse mercado, cujo lucro gira em torno de 40% do total da venda. Rondinelli mantém 21 funcionários nos barcos, fora outros cinco, que trabalham como diaristas, descarregando os peixes. “Eu não mudaria essa vida por nada”, diz. Segundo ele, a renda média para o descarregador dos barcos, que ganha por diária, é de R$ 3.800 por mês.

Manoelzinho%2C mestre de barco%2C chega a ganhar R%24 40 mil por mêsDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Manoelzinho do Provetá, 55, pescador desde que se entende por gente, fica em dúvida ao responder sobre sua maior paixão: “A família, mas logo depois é o mar”. Pai de cinco jovens, diz que pagou faculdade para todos com o lucro que veio do mar. Ele ganha, no período em que a pesca é liberada (de março a julho e de agosto a novembro), algo em torno de R$ 40 mil por mês.

No ano passado, Angra alcançou 27 mil toneladas de sardinha e este ano espera chegar a 37 mil. Só em março foram 6.571 toneladas do pescado, quase 5 mil a mais que em 2014. O “milagre” da multiplicação dos peixes tem uma explicação: a conscientização dos pescadores, que respeitaram, à risca, o defeso da sardinha — período de proibição da pesca e comercialização para garantir a reprodução da espécie, entre 1º de novembro e 15 de fevereiro. “Houve respeito absoluto por parte dos armadores e dos pescadores, o que possibilitou este recorde na produção”, explica o secretário de Pesca e Aquicultura, Júlio Magno Ramos.


Defeso muda a vida dos pescadores

Quando não há proibição, os barcos de Rondinelli ficam praticamente o tempo todo em alto mar. “Não dá para descansar. Enquanto estiver dando peixe, ninguém fica parado”, diz ele, que retira do mar cerca de 30 toneladas de sardinha por dia, vendida a R$ 1,40 o quilo.

Em março, circularam pela cidade 547 caminhões carregados de sardinha saídas do cais dos pescadores. Mas nem sempre houve essa fartura. Há quatro anos os pescadores de Angra sofreram com uma grande falta de peixes. Depois que começaram a se adequar melhor ao defeso, não tiveram mais problemas. “A pesca aqui está muito boa. Não tem crise e ainda temos vários pontos de pesca para serem explorados”, diz Manoelzinho, um dos que criticavam o defeso.

Fábrica deve atender à demanda

Além da conscientização, o trabalho de fiscalização e as condições marítimas, como a salinização e a temperatura da água, contribuíram para o aumento da produção de sardinha, o que evidencia a necessidade de uma fábrica de sardinha no município.

A prefeitura já conseguiu aprovar a construção de uma unidade de beneficiamento. Isso vai melhorar a vida dos pescadores, que atualmente só vendem para fábricas de outras cidades, inclusive no Sul, como Joiville (SC). Segundo o secretário Júlio Magno, há mercado para outras duas fábricas no Estado do Rio, maior consumidor de sardinha do país. Para abastecê-lo, seriam necessárias 100 mil toneladas por ano.


Você pode gostar