Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Nas páginas iniciais do primeiro livro da Bíblia, o ‘Gênesis’, o tema da ética sobressai: no centro do Jardim do Éden havia uma árvore do bem e do mal. A árvore é o símbolo de que toda a organização da vida humana deve ser planejada em torno de princípios éticos. Nascemos para a liberdade. Podemos optar pela opressão ou pela libertação; pela mentira ou pela verdade; pela competitividade ou pela solidariedade.
Cada uma de nossas opções, pessoais e sociais, se funda em raiz ética ou antiética. A ética exige, porém, resposta de cada um de nós: busco a minha felicidade, ainda que obtida com a infelicidade alheia, ou busco a felicidade de todos, ainda que a minha felicidade seja coroada pelo sacrifício da própria vida?
Publicidade
Sabemos que no mundo capitalista o desenvolvimento, como bem analisou Marx, sempre significou maior acumulação de riquezas em mãos privadas. Abrem-se ruas asfaltadas e iluminadas em loteamentos de terrenos destinados a condomínios de luxo, enquanto as ruas populosas das periferias não merecem calçamento e nelas proliferam valas infectadas de dejetos humanos.
Talvez o mais significativo exemplo da lógica perversa que rege o desenvolvimento capitalista seja o fato extraordinário de o ser humano, ao custo de US$ 6 bilhões, ter colocado os pés na face da Lua. No entanto, ainda não logrou colocar nutrientes essenciais na barriga de milhões de crianças da América Latina, da África e da Ásia.
Publicidade
A razão instrumental da modernidade fracassou por ceder às exigências do mercado e se distanciar de valores como a ética. No capitalismo, a moral é um estorvo, e a ética existe apenas enquanto discurso para iludir os ingênuos, assim como os “selos verdes” que emolduram a propaganda das grandes empresas devastadoras do meio ambiente. É o caso da Companhia Vale, no Brasil, e a Samarco, a ela vinculada, que em novembro de 2015, devido ao rompimento de uma barragem, ocasionou o maior desastre ecológico da história do Brasil, envenenando o Rio Doce, uma de nossas vias fluviais mais importantes e causando um prejuízo avaliado em, no mínimo, R$ 20 bilhões.
No DNA do desenvolvimento capitalista há um vírus que parece imbatível: a corrupção. Toda a história do desenvolvimento brasileiro é marcada pelo casamento entre corrupção e impunidade. Felizmente, hoje, a Justiça promove o divórcio, estabelece transparência e favorece prisões e punições, processo esse que, infelizmente, está longe de chegar ao fim.
Publicidade
Frei Betto é autor do romance policial ‘Hotel Brasil’ (Rocco)