Por felipe.martins

Rio - A história é tão maluca que fui pesquisar no Google, a ver se “Uma produção de Kim Jong-il”, de Paul Fischer, não seria mais uma pegadinha literária, um romance fingindo-se de reportagem. Que nada. O livro é a prova batatal de que não é de hoje que os ditadores tendem a ser malucos de pedra.

A história começa nos anos 1970, quando o líder da Coreia do Norte era o Kim Il-sung, pai do Kim Jong-il, rapaz esquisitão e tarado por cinema. Aos 25 anos de idade, fez de tudo pela indústria cinematográfica do seu país, mas não deu em nada. Faltava-lhe talento, mas sobravam-lhe recursos e ideias. A melhor delas foi, nada mais, nada menos, que sequestrar o mais célebre e competente casal do cinema sul-coreano. Genial, né não? Foi assim que, em 1978, Jong-il teve à sua disposição o diretor Shin Sang-ok e sua mulher, a atriz Choi Eun-hee, cuja obra era respeitada no mundo.

Eles já nem estavam mais casados quando Jong-il os sequestrou na maior cara de pau. Shin ficou preso, quase morreu. Choi não sofreu tanto, e até que teve suas mordomias.Depois de anos nessa tortura, a estratégia oficial deu certo. Shin Sang-ok produziu filmes bizarros enaltecendo o ditador, o exército, os campos de trabalhos forçados. Rolou uma identificação com os ditadores? Ou foi pela fama? Ou dinheiro?Sucesso total. Assim foi até que, em 1986, o casal conseguiu escapar.

Enfim, a história é mesmo muito doida, e Paul Fischer conta tudo com muita elegância e humor, riqueza de detalhes, fotos curiosas. O leitor consegue se sentir no meio da cultura da época, e quase dá para entender a cabeça do Jong-il, que era o pai do atual ditador norte-coreano. Estamos falando de um povo que acreditava que seus líderes tinham nascido no arco-íris, que não defecavam nem urinavam nem etc... (Pode parecer insano, mas muitos aqui pensamos a mesma coisa a respeito, sei lá, de estrelas globais…).

Mais do que história norte-coreana, o que está no livro é um capítulo da insensatez humana, sempre elevada à enésima potência quando ditadores assumem o poder. Ficam aqui o alerta e a dica de leitura pro fim de semana.


Email: nelson.vasconcelos@odia.com.br

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