Por thiago.antunes

Rio - Pois é, e no meio dessa confusão toda que se encontra o país, temos a Olimpíada. Faltam 125 dias para o começo dos Jogos. Um momento, sem dúvida, histórico. Atletas e turistas de todo o mundo vão curtir, comemorar e se encantar com a cidade, inclusive nós, povo festeiro. Mas é aquela velha história que já conhecemos: tudo o que está sendo preparado é para inglês ver.

Este cenário me lembra muito o filme ‘Vatel — um banquete para o rei’, de 1999, de Roland Joffé. O ano é 1671, e Luís XIV vive em Versailles. No norte da França, o Príncipe de Condé está enterrado em dívidas. Planeja então convidar o rei para passar um fim de semana recheado de iguarias e entretenimento. Se o príncipe conseguir cair nas graças do rei, a região será salva do desastre econômico. Vatel, seu mordomo, é o responsável por preparar um banquete suntuoso e organizar a diversão real. Tudo é maquiado para impressionar Luís XIV.

Guardadas as devidas proporções, é o que se passa por aqui. O Rio está sangrando. Professores da rede estadual completam um mês de greve, com a possibilidade de terem seus salários parcelados. Servidores da saúde cruzam os braços na quarta. Se a população já sofria com a falta de médicos, infraestrutura e remédios, imagina agora? Mas, na verdade, que diferença isso faz para os estrangeiros? Para a festa?

Talvez, o que chama mesmo a atenção externa é a segurança e o transporte. Quanto ao primeiro, o governo cortou 35% do orçamento, cerca de R$ 2 bi. Os investimentos caíram a “praticamente zero”, segundo Beltrame. Mas ninguém anda preocupado. Afinal, quem vai reforçar a segurança nos jogos será a Força Nacional.

Com relação ao transporte, parece que as autoridades também não estão esquentando. Vai funcionar e muito bem. Com as férias escolares, pontos facultativos e o incentivo para que as pessoas fiquem em casa, o trânsito vai fluir como nunca. As obras, como as do metrô, se ficarem prontas, serão de usufruto de poucos, daqueles que terão acesso às competições. Aquela confusão de ontem, provocada pelos taxistas, não vai se repetir. Quer apostar?

Enfim, será uma festa maravilhosa para inglês ver. Acaba a Olimpíada, fecha o pano, tira a maquiagem e voltamos à nossa dura e triste realidade social, política e econômica. Legado? Muitas dívidas para o bolso do cidadão.

Marcus Tavares é professor e jornalista

Você pode gostar