Rio - Durante muito tempo achei que o PMDB representava a cara do atraso. Isto, por conta de sua maleabilidade, de sua indefinição, de sua lógica de não lutar pela conquista do poder central e de, ao mesmo tempo, se tornar indispensável aos vencedores. Mas, hoje, admito que o PMDB é uma espécie de vanguarda da política brasileira, seu modelo acabou sendo adotado pela maioria dos outros partidos.
A história recente prova que ninguém governa sem o partido que conhece o valor de sua flexibilidade: não fecha apoios absolutos, não entrega 100% dos votos. A característica de ser uma federação de partidos regionais faz com que o PMDB veja as dissidências como algo normal.
PT e PSDB trataram de, lá atrás, mostrar diferenças em relação ao PMDB. Lula chegou ao cúmulo de recusar o apoio do líder peemedebista Ulysses Guimarães no segundo turno da eleição de 1989. Já o PSDB nasceu de uma costela do PMDB paulista, então dominado por Orestes Quércia. Por conta de disputas de poder e das brigas em São Paulo, PT e PSDB tornaram-se inimigos e foram buscar apoios em legendas com as quais não tinham qualquer identificação. Os tucanos se aliaram ao PFL de Antônio Carlos Magalhães e José Sarney; anos depois, o PT não vacilou em costurar alianças com o PTB e com Fernando Collor de Mello. Quem tampa o nariz com o toma-lá-dá-cá feito por Dilma Rousseff poderia dar uma olhada nos ministérios de FHC. Lá pontificaram Iris Rezende, Ney Suassuna e Renan Calheiros, todos do PMDB.
Para conquistar e manter o poder, PSDB e PT também seguiram o exemplo peemedebista. Tornaram-se menos exigentes em questões éticas e, no governo, não vacilaram em entrar no mercado de compra e venda de apoios. Tiveram também que se curvar a outros partidos que seguem a lógica peemedebista. Legendas que aprenderam que nem sempre vale disputar eleição para cargo executivo — relevante mesmo é eleger uma bancada numerosa para, lá na frente, negociar apoios e cargos. Lixam-se para qualquer identificação com teses de esquerda ou de direita; polivalentes, topam qualquer parada. Devem estar morrendo de inveja do que seu modelo fez na semana passada: saiu do governo e continuou cheio de cargos e ministérios. Não é pra qualquer um.
Nesta terça-feira, a partir das 19h, lançarei ‘Uma selfie com Lenin’, meu novo romance. Será um prazer receber amigos e leitores na Livraria da Travessa de Botafogo, na Rua Voluntários da Pátria 97, ao lado da estação do metrô. Até lá.