Por thiago.antunes
Rio - Ficar reprovado sempre fez parte do ritual escolar como sendo o auge da profecia autorrealizadora. Quem nunca sentiu, em algum momento, medo desse castigo? O reprovado, além de condenado a estudar as mesmas coisas novamente (inclusive as que já tinha aprendido), ainda estampa o troféu da derrota, fazendo parte de uma classe da mesma série e separando-se do convívio de seus amigos.
A pior parte dessa história é que repetir de ano não faz aprender mais e melhor, como comprovam as pesquisas e, no Brasil, não significa que quem foi aprovado aprendeu o que deveria aprender.
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Na década de 1980, mais da metade dos alunos da Educação Básica era de reprovados em alguma série. Entre 61 países que em 2012 realizaram o exame internacional Pisa, o Brasil alcançou o sétimo pior indicador de reprovação com 36% dos jovens de 15 anos tendo repetido ao menos uma vez. Entre os países ricos, esse percentual não passa de 10%.
Repetir de ano, além de uma perversa e ineficaz estratégia de aprendizagem, provoca o mal-uso do dinheiro público. Cerca de 10% da verba do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) é gasta com alunos repetentes, que, via de regra, não aprendem o que deveriam e ainda passam a ser sérios candidatos à evasão escolar. É urgente que nossos alunos aprendam mais e melhor.
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A sensação que temos é a de que o Brasil vai repetir de ano. Estamos diante de um 2017 em que parece que veremos as mesmas coisas e ouviremos as mesmas ladainhas — e o pior, com a sensação de que tudo pode piorar.
Assim como um aluno reprovado, precisaremos reunir forças para que o ano não seja simplesmente repetido, mas, sim, construído em outras bases. Para isso, precisamos vencer a sensação de que fomos injustiçados (mesmo que tenhamos realmente sido), típica do aluno reprovado, e não cometamos os mesmos erros que nos levaram a esse sofrido resultado.
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É difícil desejar feliz ano novo para quem vai repetir de ano, mas podemos lançar mão de alguns jargões que podem nos ajudar nessa hora. “Tire o ‘s’ da crise e crie um ano diferente! ” “É nas situações mais difíceis que mais aprendemos. ” “No fundo do poço tem uma mola que nos impulsiona.” Desculpem a ironia. De qualquer forma, que 2017 possa ser um ano melhor para todos nós.
Júlio Furtado é professor e escritor