Por thiago.antunes

Rio - — Mestre, quero propor uma Educação inclusiva, cidadã, inovadora, com sólida fundamentação ética, visão de mundo e de futuro, mas estou confuso, a cabeça martelando o que me disse um amigo: “Míope, estás louco! Comparar é buscar semelhanças e ressaltar diferenças. Os modelos educacionais do Brasil e do Japão são opostos em filosofia, cultura e modelo de gestão, não admitem comparações. Pareces Alice, perdido no País das Maravilhas, em busca de lugar nenhum.”

— “A virtude está no meio”, disse Sócrates. Que tal um modelo que some o que há de melhor e que exclua o que há de pior na educação destes países?

— Mestre, é o que ensina a razão, mas a Educação nunca foi prioridade no Brasil. Escolas de primeiras letras foram criadas apenas em 1827, e muitas continuam em péssimo estado, sem alma, sem bibliotecas e computadores, trancando o século 21 do lado de fora. Estudantes vêm de famílias punidas pela recessão e o desemprego, alguns chegam à escola prontos para a guerra, agridem colegas e professores. O magistério público virou atividade de risco, sem reconhecimento ou remuneração adequados.

O poder público é incompetente, criminosos de várias facções desviam verbas da merenda, muitos estão presos por roubo, escolas sem aulas são ocupadas e depredadas, choque de séculos, de filosofia e de cultura: a sociedade exige Educação do século 21 e a escola vive o século 19! No Japão, todas as crianças ficam na escola nove horas por dia, estudam, brincam, aprendem sobre valores e cidadania, limpam salas e banheiros, servem a merenda, cuidam de sua escola, que é sagrada, e o magistério é atividade de reconhecida nobreza.

— Problema resolvido: aplique no Brasil o modelo japonês.

— Mestre, no Brasil é inaceitável criança ajudar a limpar o que sujou na escola. Muitos pais não educam seus filhos para que respeitem a escola e a sociedade. Mas o que não entendo e que me atemoriza: os níveis de exigência e de competitividade são tão insuportáveis que de 1972 a 2013 mais de 18 mil crianças cometeram suicídio no Japão.

— Míope, estás louco e queres me enlouquecer. Na volta do psicanalista tomarei alguns barris de vinho e em alguns séculos voltaremos a nos falar, ok? Panta rei.

Ruy Chaves é especialista em Educação

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