Por thiago.antunes

Rio - E assim, já que o país está muito bem das pernas e ninguém precisa trabalhar, vamos ao terceiro feriadão em três semanas consecutivas. Eis, portanto, minha lista de sugestões para que esses dias ociosos não sejam totalmente desperdiçados em Facebook e afins.

Preferência nacional: Hebe Camargo sempre foi uma pessoa encantadora. Desde os anos 40, colecionou fãs e amigos, tornando-se o sucesso unânime que todos conhecemos. Passou muitos perrengues, claro, mas tratou de viver intensamente, esbanjando alegria.

Boa de copo, namoradeira, riso aberto, foi uma gigante de 1,61 metro de altura. Escrita pelo jornalista Artur Xexéo, a biografia da Hebe Camargo é uma grande homenagem à vida e a todos que sabem valorizar a alegria, a generosidade e a espontaneidade. Além disso, é leitura obrigatória para quem acompanha a televisão brasileira.

Eu me mordo de ciúmes: se você nunca leu Shakespeare, experimente ‘Otelo’. Otelo é um general valente pra chuchu, estrangeiro, respeitado. Casa-se com Desdêmona, uma mulher deveras interessante. Iago, seu braço direito, é um sujeito interesseiro. Quer subir na carreira e, para isso, faz suas armações. Será que vai conseguir?

Muito resumidamente, é essa a base da história. Mas Iago é muito intrigante, e Otelo, menos forte do que sua fama faz parecer. Desdêmona é a filha que contraria o pai para casar com o forasteiro negro. E por aí vai. Seria chover no molhado falar que esses tipos encarnam o ciúme, a covardia, o mau-caratismo, o racismo...Shakespeare é sempre desbundante.

Gosto da edição da Penguin Companhia, com introdução de Lawrence Flores Pereira e um ensaio instigante do W. H. Auden. Coisa boa, bonita e barata: em torno de R$ 30, dependendo da livraria.

Boa surpresa: Fico feliz quando alguém arregaça as mangas para escrever. Não é tarefa fácil. Mas o Wagner Torres de Araujo não fez corpo mole. O resultado é ‘Memórias dispersas’. O melhor da prosa do Wagner é a falta de pretensão literária.

Não quer parecer melhor que ninguém, quer apenas contar suas histórias. Por isso, escreve como se estivesse conversando com a gente, o que exige talento. Que venham outros contos.

Me engana que eu gosto I: Se duas cabeças pensam melhor que uma, imagina quando duas cabeças delirantes resolvem escrever um romance policial aterrorizante. Duvido que você consiga largar ‘A garota-corvo’, do Erik Axl Sund — pseudônimo de dois suecos bem doidos. Para quem gosta de literatura dos países nórdicos, tipo os mestres Stieg Larsson e Henning Mankell, é um prato cheio. Não recomendável para quem tem medinho ao apagar das luzes.

Me engana que eu gosto II: ‘Antes da queda’, de Noah Hawley, é perfeito para quem gosta de suspense e tramas bem sacadas, envolvendo gente rica e malvada. Mas fica um alerta: você nunca mais vai entrar num avião com tanta tranquilidade.

Nelson Vasconcelos é jornalista

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