Por thiago.antunes

Rio - Qual deve ser a sensação de uma avó soropositivo ao segurar um neto nos braços e saber que ele não tem HIV? As gestantes infectadas nas décadas de 1980 e 1990 não tiveram a mesma opção que as suas filhas têm hoje ao engravidar.

A primeira geração portadora do HIV passou o vírus para os filhos ainda na barriga, com a chamada transmissão vertical. Hoje as mulheres da segunda geração começaram a ser mães e podem fazer um pré-natal especializado, sem repassar o vírus aos filhos.

Há 20 anos esta estratégia de cuidado vem sendo desenvolvida no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), com o Programa de Prevenção de Transmissão Vertical do HIV. Desde 1995, mais de 2.600 mães e seus filhos foram atendidos.

Neste tempo, reduziu de 30% para menos de 1% os casos de infecção das mães para os bebês. Com isso, foi evitado um crescimento exponencial da epidemia, tendo em vista que todos os anos surgem 40 mil novos casos de Aids no país.

Para entender o comportamento do vírus em pacientes que já nasceram com HIV, o programa acompanhou a gestação de 22 mulheres, entre 2011 e 2014. Constatou-se que elas precisam de uma assistência personalizada, pois já tomaram diferentes antirretrovirais e têm vírus mais resistentes.

Para um tratamento eficaz, as gestantes passam por um mapeamento genético no qual a carga viral é apurada e após o resultado é indicado um protocolo individual. Esse pré-natal especializado interrompe a transmissão do vírus para o feto.

Todas as crianças acompanhadas neste estudo nasceram sem o HIV. Nesse grupo, muitas mulheres informaram ao parceiro a condição de soropositivas. Um cenário distinto das primeiras décadas da infecção, quando as mulheres eram contaminadas e abandonadas pelos maridos.

Vivemos uma sequência de avanços como esse registrado no HFSE, mas é preciso ressaltar que o HIV ainda é uma doença sem cura. Em 10 anos houve um aumento de 41% na taxa de detecção do vírus entre jovens. Em 2014 surgiram 13,4 mil casos a cada 100 mil habitantes de 15 a 24 anos. Hoje, o maior desafio de pesquisadores, profissionais, governos e sociedade ainda é a prevenção.

Maria Letícia Cruz é infectologista

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