Por thiago.antunes

Rio - As chamadas ‘Repúblicas’ estão para os franceses como portas para novos tempos, algo como se fosse um ‘reset’ do sistema e o início de nova jornada. Assim foi em 1789 com a Revolução Francesa, que, sob o lema “Liberté, Égalité, Fraternité”, deu fim à monarquia absolutista e fundou a Primeira República. Da mesma forma em 1958, quando Charles de Gaulle inaugurou a Quinta República — atual, nascida no pós-guerra.

Estamos diante de novos tempos. Independentemente do lugar de fala ou da leitura do atual momento político, social e econômico que cada um faça, há uma certeza irrefutável: chegamos ao fim de um ciclo no Brasil. Ao invocarmos os franceses com suas ‘Repúblicas’, não seria absurdo algum concluirmos que a Nova República, fundada sob os marcos da democratização do país e consolidada com Constituição Cidadã de 1988, chegou ao seu fim.

O fim, entretanto, não significa que tudo foi perdido. Avançamos muito: da economia à área social, do fortalecimento das instituições e dos mecanismos de controle às liberdades e aos direitos individuais. Porém, da mesma forma que progredimos, também regredimos. Nada é mais nítido do que o fracasso no campo da política e nas relações do Estado com o mundo privado.

A Nova República ficou velha não pelo acaso. Sob o mantra do ‘presidencialismo de coalizão’, aqueles que um dia foram o esteio da estabilidade — PMDB, PSDB e PT — colapsaram brutalmente, ferindo o sistema político brasileiro de morte. Ora aliados, ora algozes e adversários, são estes, juntamente com seus satélites, os genuínos sócios da crise que assola o país desde 2015.

Seria ingenuidade acreditar que deste sistema político colapsado seja ainda possível surgir algum tipo de solução. Neste emaranhado de interesses, o que fica claro até aqui não é a construção de soluções, mas, sim, a arquitetura de proteções de toda ordem. Mas nem tudo está perdido.

O surgimento de movimentos civis como o Agora ou Nova Democracia — e muitos outros, articulados por jovens ativistas e militantes políticos, como Ilona Szabó e José Marcelo Zacchi, são apostas de que nossa jovial democracia ainda respira e pode se reinventar. Quem não captar o novo curso da história será dragado ao esquecimento.

Rodrigo Abel é membro da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia

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