Por karilayn.areias

Rio - Tá feia a coisa. Feiíssima, eu diria. Mas sempre me apego a Noel Rosa e sua ‘Filosofia’: “Vou fingindo que sou rico/ pra ninguém zombar de mim”. É fingimento, mas é poesia – até porque, como se sabe, o poeta é um fingidor, como garante o Fernando Pessoa. Aliás, sei que o pessoal acha que filosofia é algo de outro mundo. Não é. Trata-se de um bom exercício para os neurônios e para a vida. Por isso, as dicas de hoje vão tratar de mostrar que a filosofia não está longe do nosso dia a dia.

A primeira sugestão é ‘Ridículo político’, da Marcia Tiburi. É um alerta em relação a praticamente todos os políticos que estão circulando hoje pelo país. Quanto mais
fanfarrões, mais eles conseguem ganhar a cena, abrindo mais espaço na mídia e, no fim das contas, no coração do povo. Sua patetice é muito bem arquitetada porque o grotesco dá ibope. Não é à toa que o prefeito de São Paulo, João Doria, se veste de gari. E é inevitável lembrar também de Bolsonaro, outro que se aproveita muito do discurso idiota para frequentar as manchetes e as redes (anti)sociais.

Qualquer livro da Marcia Tiburi, que já lançou vários títulos de filosofia, merece uma conferida atenta — mas ‘Ridículo político’ é fundamental nestes dias de sem-vergonhice ampla, geral e irrestrita.

Outro pequeno livro que nos abre a cabeça para os perigos políticos é ‘Sobre a tirania’, do Timothy Snyder. Fez sucesso nos EUA logo depois que o Trump foi eleito. Para muitos, sua chegada ao poder prova que o discurso barato, o autoritarismo e a intolerância estão tomando o lugar da democracia. E esse processo está se repetindo em vários cantos do mundo. Temos muito com o que nos identificar nas poucas páginas do Timothy Snyder e seus conselhos para encarar sua vida política.

Como a filosofia também nos dá subsídios para encarar outros atropelos, vale uma boa espiada em ‘No café existencialista’, da Sarah Bakewell. Ela explica como um grupo de filósofos mudou a maneira de ver o mundo depois da Segunda Guerra (1939-1945). Nomes como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus abriram (ou reforçaram) os caminhos para que hoje possamos brigar pelos direitos de mulheres, gays, negros e outros tantos segmentos (não minorias) que sempre foram marginalizados. Entender a filosofia existencialista ajuda muito a entender estes nossos tempos conturbados e suas figuras grotescas.

Isto posto, esta coluninha tira uns dias de férias. Serão duas semanas de muitas leituras, claro, a serem compartilhadas com vocês em breve. Até lá.

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