Por karilayn.areias

Rio - No rico folclore brasileiro, lendas e mitos com raízes na formação de nossa identidade — portugueses, indígenas e africanos — fundem o imaginário popular com fatos distorcidos, tentando explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, estórias sempre aterradoras.

O Corpo Seco ou Unhudo fez somente coisas muito ruins. Desobediente, malcriado, mentiroso, batia na mãe. Ao morrer, foi rejeitado por Deus e pelo Diabo e não foi enterrado porque a terra, enjoada, vomitava o corpo de volta. Então, seu corpo em decomposição teve que sair do túmulo e, sempre cheio de ódio ,passou a vagar como alma penada, criatura maligna que se gruda ao tronco das árvores guardando um abraço da morte para o incauto que cruze o seu caminho, sugando lhe o sangue.

O Cabeça Satânica, criatura medonha capaz de assustar até o Diabo, surge repentinamente como uma cabeça imensa, cabelos compridos, arregalados olhos de fogo, sempre rolando no chão e gargalhando de forma tenebrosa; ou como a cabeça de um cangaceiro castigado pelas adversidades, feições rudes, sorriso da morte; ou como ser fantasmagórigo que solta cabeças macabras em perseguição às vítimas. A pessoa tocada pelo Cabeça Satânica logo adoece e sangra até morrer.

O Coisa Ruim parece um caranguejo gigante com bico de urubu e pinças afiadas cortando e comendo sem parar tudo o que encontra. Come hospitais, escolas e universidades, come usinas nucleares e empresas públicas, come gente, come o Pai, a Mãe, o Filho e o Espírito Santo, bebe petróleo e sangue humano.

Dizem as más línguas que o Unhudo, o Cabeça Satânica e o Coisa Ruim, travestidos de inescrupulosos políticos, empresários e servidores públicos , assombrosas lendas tupiniquins do século 21, foram presos na Operação Lava Jato por chuparem o sangue, as riquezas e a honra da nação e, de cabeças raspadas, estão fazendo delações premiadas sobre outros seres das trevas. E correm boatos de que as lendas assustadoras Sapo Barbudo, Coveiro do Jaburu, Mulher Sapiens e Homem da Mala vivem em pânico em suas cavernas aguardando a visita do Japonês da Federal. E a gente pensando que o vampiro brasileiro era o Bento Carneiro, do Chico Anysio, “aquele que vem do aquém do além, adonde que véve os mortos. Pzztt”.

Vade retro! Panta rei.

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