Por thiago.antunes

Rio - A política no Brasil cria palavras e expressões curiosas. Depois do regime militar, só se falava "em resgate da dívida social" e no "entulho autoritário". Mas, decorridos 30 anos, a dívida social aumentou e o autoritarismo ganhou novas formas, marcadas pela ação da corrupção ou do compadrio. As palavras mérito, competência e austeridade foram varridas.

A palavra do momento é 'republicano', como referência de correção, transparência, honestidade e democracia. Pode parecer deboche com os que promoveram o mais clandestino de nossos golpes, uma vez que se tomou o poder, despachando o governante em 24 horas e sem o conhecimento da população. Isso porque, no caso brasileiro, a instauração do regime republicano nunca favoreceu ao progresso do Brasil, tendo como exceção de desenvolvimento com ambiente democrático os anos JK, os de ordem e progresso no Estado Novo, de Vargas, e nos de regime militar, de 64 a 85.

No mais, foram anos de crises intermináveis. A primeira fase desembocou na Revolução de 30; a segunda, no suicídio de Vargas; a terceira, na renúncia de Janio; a quarta em 64, e a quinta e sexta, em dois impeachments, e no meio o golpe da reeleição e um suceder de escândalos - estes, sim, republicanos, pois atingiram todos os poderes.

Um regime parlamentarista adaptado à realidade brasileira, com um Senado fortalecido e com um recrutamento de qualidade, seja pela via direta ou indireta, poderia melhor servir ao aprimoramento democrático, em visível crise de credibilidade. A democracia tal como a temos vai se aproximando da anarquia, o que chega a ser cruel com a massa sofrida da população, que sente os reflexos da questão política. Talvez seja mesmo o fato de examinarmos uma experiência monárquica, que deu certo no passado e preservou uma família preparada para assumir responsabilidades.

Neste mundo competitivo, o Brasil só vem perdendo posições, inclusive para vizinhos mais frágeis na cultura e na economia. Ou partimos para algo forte em termos de mudanças ou ficaremos condenados a um futuro medíocre, injusto e, possivelmente, violento e pobre.

É hora de se pensar a sério. E sem medo. Basta deixarmos de ser um capitalismo que persegue o empreendedor de gula fiscal que mais parece um confisco dos tempos coloniais. Vamos deixar de brincar de democracia, elegendo gente menor. Vamos deixar de fingir que queremos trabalhar, criando a proteção ao mau empregado, ao mau pagador, ao mau servidor. Vamos pensar!

Aristóteles Drummond é jornalista

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