Roberto Muylaert, colunista do DIADivulgação
Por Roberto Muylaert Editor e jornalista
Publicado 14/03/2018 03:00

Rio - Existe uma crença generalizada de que um dos fatores que fizeram os Estados Unidos saírem derrotados do Vietnã foi o fato de que a guerra chegou aos lares americanos pela TV, bem na hora do jantar. Hoje, esse fator está diluído, pela vulgarização das imagens em nossa babel digital, fake ou real.

Drones, câmeras superlentas e teleobjetivas com enorme alcance trazem para perto a tristeza e o sofrimento do outro lado do mundo.

O último reduto dos rebeldes na Síria chama-se Ghuta Oriental, onde vivem 400 mil civis, que permanecem mais tempo enfurnados em porões, durante os ataques, do que na superfície. Tiros e granadas vêm do Exército sírio, enquanto ataques pelo ar são da Força Aérea russa. Não se trata de uma vila perdida no mundo, a região era frequentada por habitantes de Damasco nos fins de semana.

Comecei a prestar atenção quando vi imagens diversas de crianças pequenas retiradas de escombros, com o branco pálido da morte na face, braços despencados do colo do pai. Isso tem um nome: holocausto. E não se refere a nenhum dos casos que temos de memória: Ruanda, Congo, Armênia, Bósnia, Segunda Guerra, Vietnã.

Não vingou o armistício para retirar crianças e habitantes vulneráveis da cidade, e os bombardeios prosseguem, sem socorro possível.

Há muitas formas de eliminar seres humanos da face da Terra, dependendo do requinte de crueldade de cada época. O holocausto em curso é o fim de uma guerra da Síria contra os rebeldes, em que a população está no meio do fogo cruzado, "por pouco tempo", segundo o ditador Bashar al-Assad.

O mundo nunca foi tão próspero, com tanto dinheiro guardado para investir. Mas, para quem precisa de ajuda agora, de onde virá o socorro tão premente?

O burocrático Conselho de Segurança da ONU transcreve resoluções em atas, enquanto crianças são sacrificadas a cada dia.

Einstein dizia que o mundo não vai ser destruído pelos que praticam o mal, mas pelos que não reagem às agressões e ameaças. Mas, diante da inércia dos estadistas de hoje, não há muita reação a esperar. E para quem passa mal sabendo de mais um holocausto que se desenrola, pouco resta a fazer, a não ser deplorar os motivos e métodos que o homem segue utilizando, sem nada ter aprendido com o passado.

Roberto Muylaert é editor e jornalista

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