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Por Maria Thereza Sombra
Publicado 02/04/2018 03:00

Após oito décadas de vida, pouco a pouco, chego à conclusão de que os valores sociais como um todo foram drasticamente perdidos. Tudo o que vemos afronta os direitos dos cidadãos. O mais grave é que não se trata de algo isolado, mas uma realidade generalizada, na qual a integridade, a moral e a ética parecem ficar em segundo plano. Algo assustador para aquilo que chamam de evolução. E o Rio de Janeiro, hoje, é a representação maior dessa tragédia.

Os valores sociais sofreram muitas mudanças. Transformações que banalizaram os antigos conceitos que se perderam no tempo, sendo o respeito tratado como algo ultrapassado. E nessa "onda", a própria família tem sido altamente impactada.

O que antes representava a base de uma boa formação deu passagem para a cultura do individualismo. Tornamo-nos uma sociedade desagregada. Tudo isso sob o argumento de estarmos conectados, sem percebermos que, em verdade, estamos cada vez mais desconectados de humanidade, a começar por aqueles que deveriam lutar pelos direitos do povo.

A comunicação é por aplicativos e smartphones e, assim, amargamos a falta de diálogo com o nosso par que está ao lado. Tais consequências, de um ritmo de vida tecnológico, são ainda mais devastadoras quando alcança o desequilíbrio, tornando a violência uma cena comum, seja ela nas suas mais variadas expressões.

Podemos falar aqui de tragédias extremas, como a morte de uma parlamentar. Podemos citar casos de neto matando avó, filhos matando os pais etc. Podemos falar da violência urbana, na qual a população é a maior vítima e bala perdida passou a fazer parte do nosso vocabulário. Mas também podemos citar gestos rotineiros que passam despercebidos, como a falta de gentileza no cumprimento diário, no gesto nobre da ajuda ao idoso para atravessar a rua ou também a cessão de lugar para uma grávida num coletivo.

Vivemos um caos. E diante desse cenário, o fazer justiça também se tornou banal. As pessoas que se dizem cansadas de violência espancam, por vezes até a morte, ladrões de celular, cordão etc. Grupos se unem em determinados locais para surpreenderem e promoverem a justiça com as próprias mãos. Uma verdadeira "lei de Murici", na qual cada um cuida de si.

É lamentável a falta de formação de base para as crianças, as únicas que podem transformar esse cenário no futuro, pois, somente com educação poderemos reverter esse quadro alarmante. Assim como a árvore, é o homem. A raiz a sustenta e o alicerce de todos nós são os ensinamentos passados nos primeiros anos de vida, durante a formação da nossa personalidade.

Se não repensarmos o quanto antes a nossa sociedade da forma mais ampla possível, fatalmente continuaremos fadados a ser um estado e um país desconectados de princípios básicos e abandonados por governantes que em nada contribuem para o esclarecimento da população.

 

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