Saturnino Braga - Arquivo O DIA
Saturnino BragaArquivo O DIA
Por Saturnino Braga ex-senador e presidente do Centro Celso Furtado

Rio - No Brasil, após uma luta de vinte anos contra a ditadura implantada pelo golpe de 64, pensou-se, razoavelmente (pensei eu, pelo menos), que o espírito democrático havia-se consolidado no País e nunca mais teríamos golpes contra governos legítimos. E tivemos.

No mundo, depois de 40 anos de uma guerra fria que deixava o planeta sob permanente risco de uma extinção da sua vida humana, veio a convicção de que este perigo maior tinha sido de todo superado. E eis que o mundo acorda assustado neste último sábado e volta todas as suas atenções para a Síria, para os Estados Unidos e para a Rússia: A guerra fria retorna e atinge logo uma temperatura muito alta! Será?!

Cessa tudo o que antes se discutia, que outro perigo mais alto se alevanta!

Não, não pode ser! O bom senso da Humanidade prevalecerá, como prevaleceu nos momentos mais graves e arriscados do século passado, como nos anos sessenta, quando Kruschov resolveu enfrentar mais diretamente Kennedy e enviou misseis a Cuba, sabendo entretanto recuar na hora H.

Bem, eis o motivo principal do medo de agora:

Nos Estados Unidos, foi eleito e está no poder um presidente que parece muitas vezes não ter o bom senso tão sólido e confiável dos líderes de outrora.

Bem, Donald Trump, pelo menos, mandou bombardear apenas alvos específicos, locais onde pretensamente eram fabricadas armas químicas. De qualquer forma, entretanto, não foi um ação de apoio a uma facção local mas uma operação feita diretamente por nações que não foram agredidas e não tinham razões para uma ação militar direta num país soberano que não lhes declarou guerra. Arriscaram, talvez por acreditar no bom senso de Wladimir Putin.

Nós também teremos que confiar. A Rússia tem sido dura nas declarações e nas acusações mas não retaliou militarmente. Entre as acusações graves está a de que esse ataque sírio com armas químicas não teria existido.

É quase impossível uma verificação confiável mas é um motivo muito forte para levantar suspeita de mais uma fraude imperialista.

Um exemplo disso foi o que aconteceu no Iraque, há algum tempo. E que serviu de pretexto para a invasão americana naquele país, com a prisão e execução de Sadam Hussein e a tomada do petróleo , mesmo não tendo sido identificada nenhuma arma de destruição em massa no território invadido.

Ademais, fraudes, enganos e mentiras das potências imperialistas, França e Reino Unido no Oriente Médio, têm sido uma constante há 100 anos, desde o rocambolesco Lawrence da Arábia, para o exercício da ocupação e dominação sobre a Síria, o Líbano, a Palestina, a Jordânia e o Iraque.

O Ocidente mantém o Oriente sob permanente e destruidor conflito. E os orientais desconfiam dos ocidentais. E Israel é visto como enclave da região que engana dentro do conjunto desses países.

A retaliação russa pode ficar no campo discursivo e o episódio ser superado como mais um susto sem maiores abalos, além da imoral e cínica destruição da nação e do povo sírio e a invasão da Europa pelos povos da África e da Ásia, agredidos durante séculos. A reação positiva da Alemanha contra o bombardeio americano foi, ademais, um fator de contenção da sanha dos imperialistas.

Passado o susto da terceira guerra, poderemos então voltar ao que atormenta os brasileiros. A prisão de Lula, inexplicável e inaceitável para o mundo da justiça e da razão, o retrocesso econômico-social de nossa Nação, com o desmantelamento de todos os avanços conseguidos na primeira década do século, e a instalação de um perigosíssimo clima de ódio entre os brasileiros, com a desmoralização do Brasil que emergia no concerto das nações.

E o assassinato da Marielle e do Anderson?

Passado um mês, não se sabe de nenhum resultado das investigações, nem a mais inicial das pistas, como se o crime hediondo fosse "impossível" de ser desvendado, isto é, praticado pelos próprios golpistas no poder, tal como as bombas do Riocentro de anos passados, explicadas de maneira ininteligível por um Coronel Job Lorena, depois promovido a general.

A fala esquisita do Comandante do Exército na véspera do julgamento do Lula, esquisita porque estranha a seu comportamento anterior, foi muitíssimo preocupante.

Mas a luta continua assim mesmo: pela democracia e pelo desenvolvimento da Nação Brasileira.

E, pela paz mundial.

Saturnino Braga é ex-senador e presidente do Centro Celso Furtado

Você pode gostar
Comentários