Por O Dia
Publicado 19/04/2018 03:00

Rio - Muita gente gosta de dar palpites sobre tudo e todos, encampar conceitos preconceituosos ou de origem ideológica, agredir os fatos e ignorar a história. A preguiça impede a leitura, a reflexão e a ponderação.

Cada momento histórico representa um quadro que não se repete necessariamente e o que é válido numa época não o é em outra. O pensamento democrático evolui com o tempo, embora o alerta de Francisco Campos, ministro da Justiça de Vargas, precisa ser lembrado: a evolução das práticas democráticas deve ser responsável para não se transformar em anarquia ou ditadura de grupos organizados.

Ora, no Brasil, criou-se a imagem do Getúlio ditador, o que foi em oito de 20 anos de poder. Chegou ao comando pela Revolução de 1930, como presidente provisório, depois foi eleito indiretamente, após a Constituinte de 1934, tendo sido levado ao Estado Novo como imposição da ordem e da paz e para manter o Brasil afastado dos radicalismos daqueles anos no mundo. Na volta, em 1950, fez a "revolução pelo voto", prova do reconhecimento popular. Em cada página de sua passagem pelo poder, houve consonância com a realidade do momento.

Outros políticos levaram carimbos injustos, que prevalecem até hoje na crônica política, por mero revanchismo. É o caso de Filinto Müller, tenente em 30, chefe de Polícia de Vargas, tido como homem violento. No entanto, foi parlamentar respeitado por 28 anos, presidente do Senado, líder do centrista PSD e de JK.

Outro tenente, João Alberto Lins e Barros, sofreu campanha que colocava em cheque sua honestidade. Morreu deixando à viúva os vencimentos de tenente, pois os outros cargos, inclusive, interventor em São Paulo, não ofereciam pensão. Em 1972, o presidente Médici elevou a pensão da viúva, então em dificuldades.

É preciso muito cuidado no esforço pela moralidade no trato do dinheiro público. Mas alimentar lendas não contribui para acabar com a impunidade. Erros administrativos é uma coisa, enriquecimento ilícito, outra. São Paulo carimbou seus dois maiores benfeitores - Adhemar e Maluf - em termos de obras fundamentais, embora tenham nascido ricos. Ambos tendo vivido na mesma casa a vida toda. Justiça com isenção, sem paixão, ódios e crueldade, é o que se espera. Nunca "por ouvir dizer".

Aristóteles Drummond é jornalista

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