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Por André Sena Escritor e professor de Relações Internacionais

O humanista, educador e presidente da Universidade Soka, no Japão, Dr. Daisaku Ikeda define o conceito de necessidade como algo intrinsecamente ligado a ideia de criatividade. Ikeda afirma que "a energia da criatividade é como um fogo que transforma todos os tipos de obstáculos em oportunidades, para que avancemos e cresçamos de forma dinâmica".

Não resta dúvidas de que essa dobradinha entre criatividade e necessidade é uma matemática poderosa na produção de novas estratégias de desenvolvimento, seja a nível pessoal ou em nossa sociedade como um todo. E se alguém ainda duvida que o mundo em que vivemos exige de nós que sejamos criativos e capazes de contornar os mais diversos tipos de adversidade, essa pessoa precisa rever seus conceitos com urgência.

Isso passa efetivamente pelo desenvolvimento de uma sensibilidade no corpo social (e pela prosperidade individual), em sabermos detectar o que julgamos ser necessário. A expressão "é necessário" portanto se faz sentir como um vetor, que nos conduz a certezas importantes, em um mundo atravessado pelo império da dúvida e da instabilidade.

Os desafios do mundo político hoje são um exemplo interessante disso. Nunca foi tão vital o aparecimento na cena política de new faces, uma nova safra de mulheres e homens capazes de expressar a sensibilidade evocada pela expressão "é necessário". Trata-se de uma tarefa complexa e que exige cada vez mais coragem daqueles que se aventuram pelos meandros da política brasileira.

Saber o que é preciso fazer, compreender e dimensionar aquilo que é da ordem da necessidade, vislumbrar e apontar o que julgamos ser necessário talvez seja o grande diferencial do mundo político tradicional, cada vez mais obsoleto, exatamente porque abraçou a contingência no lugar da necessidade, em nome de uma incerta permanência no jogo do poder.

Filósofos da grandeza de Aristóteles já nos alertavam sobre esse perigo. O professor do pai de Alexandre, o Grande inspirava seus discípulos
admoestando-os sobre a necessidade de evitar-se o consenso a qualquer preço, e de caminhar na direção de um mundo político onde a pluralidade de ideias fosse a viga mestra da partida. Porque era justamente aí onde aqueles que desejavam o melhor para a pólis poderiam apontar, via dialética da necessidade, os melhores caminhos para a comunidade.

Os autores da Revolução Americana de 1776 sabiam disso quando disseram que era justamente da pluralidade que a unidade nasceria: et pluribus unum.

De forma humilde, mas muito consciente, eu acrescentaria a este lema a ideia da necessidade: da pluralidade nasce a unidade justamente porque ali temos um terreno fértil para detectarmos e discernirmos o que é necessário que seja feito para o bem de nosso mundo, entendendo que o aperfeiçoamento da comunidade atinge a todos e não apenas a um ou outro setor da sociedade.

Justamente por isso acredito ainda na política como uma nobre atividade.

Graças a ela podemos expressar nossas leituras de mundo, pontuando aquilo que é necessário para que tornemos nossas utopias mais reais; o que requer coragem, humildade e criatividade. É necessário.

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