Rio - Será uma mera coincidência o fato de a nossa seleção de futebol ter sido eliminada da Copa nos últimos 20 anos (à exceção de 2002) em razão de gols sofridos em bola parada?
Em 1998, o primeiro e o segundo gols da França foram resultantes de cobrança de escanteios. Em 2006, o gol da mesma França surgiu de uma cobrança de falta da intermediária lateral. Em 2010, o gol da virada da Holanda também se originou da cobrança de um tiro de canto. Em 2014, todos ainda se lembram, o gol de Muller abriu o caminho para os 7x1. Na semana passada, o toque involuntário do Fernandinho, após a cabeçada de Kompany, confirmou a nossa sina.
Se o Brasil se torna mesmo a pátria de chuteiras na época da Copa do Mundo, para usar a expressão de Nelson Rodrigues, será que essa coincidência não esconde algo que esteja entranhado nas nossas ações e pensamentos, pelo menos nos últimos anos?
O jogo começa, o time está ligado, fazendo o seu papel, atacando e até mesmo perdendo gols. Enquanto a bola está rolando, tudo corre bem, a equipe se encontra alerta.
De repente, uma bola parada, uma quebra do ritmo, desconcentra todos e abre caminho para a derrota, em razão de falhas coletivas.
Temos até nomes diversos para explicar esse comportamento: apagão, dar um branco, baixar a guarda, etc. Estou acostumado a dar aulas e arrecadar tributos. Constato tal "regularidade", mas passo a bola para os psicólogos, antropólogos e demais cientistas sociais. Eles é que entendem de tais aspectos de nosso cotidiano.
Entretanto, como brasileiro, inicialmente fico me perguntando se isso representa ou não um padrão comportamental coletivo. E a partir de tal dúvida, outra mais profunda. De que forma esse comportamento pode estar afetando nossas derrotas cotidianas, em termos sociais, políticos e civilizatórios?
E daí é um pequeno salto para me assombrar no desejo de identificar quem são os Zidanes, Henris, Sneydjers, Mullers e Kompanys que impedem o crescimento moral, econômico e social do país. 2018 ainda não acabou! Ainda tem o segundo tempo, e vem bola na área em outubro...
A sociedade precisa afastar o perigo e partir para o contra- ataque, eliminando as práticas que vêm atrasando o país nas últimas duas décadas. Ou nos últimos 518 anos...
O século XXI, que projetou tantas esperanças em nossos sonhos, está passando. Quase 20% dele já ficaram para trás, e o Brasil continua parado, enquanto todo o mundo caminha.
Vamos lá, pessoal! Marcação cerrada, olho nos adversários e na bola. Na dúvida, manda a bola para a arquibancada.
Pedro Diniz Filho é auditor fiscal e presidente do SINFRERJ