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Por Ricardo Cravo Albin Presidente do Inst. Cultural Cravo Albin

O filosofo Platão refletiu certa vez que o percurso do homem em busca do ato civilizatório só atingiu patamar concreto no momento em que foi criado o chamado "prêmio", para distinguir um melhor, ou os melhores, dentre os demais pares.

Na Antiguidade grega, as Olimpíadas acenderam a chama da magia do ato de premiar. A coroa de louro concedida ao melhor atleta determinara a exceção, a escolha, o triunfo de um sobre os outros. E isso, que hoje parece inflexão banal, significou um grande passo para o comportamento cultural do homem ao se transformar em homo sapiens. Trago hoje este assunto porque sempre alimentei a certeza de que os prêmios são uma necessidade de essência para nosso ainda acanhado universo cultural. E só insisto nesta tecla porque posso falar com certa autoridade sobre premiações. Este cronista que vos escreve criou os (até hoje festejados) Golfinho de Ouro e Estácio de Sá para o Museu da Imagem e do Som nos anos 60, como também imaginou a Coruja de Ouro, para os melhores do cinema brasileiro. Ou, já nos anos 2.000, os prêmios Ernesto Nazareth, Noel Rosa e Tenório Junior para o Instituto Cravo Albin. Além do Grande Prêmio Cidade do Rio de Literatura para a Academia Carioca de Letras.

E paro por aqui, já um tanto envergonhado por autocitações abusivas. Embora, entendo que úteis, no sentido de acolher com fundamentos de relevância estes primeiros prêmios do ano de 2018, distribuídos há poucos dias no Theatro Municipal. Foi o 29° Prêmio da Música Brasileira, criado pelo produtor José Maurício Machline em 1987, com o apoio de Mario Henrique Simonsen. Eu acompanho este evento desde o comecinho, quando ostentava o nome do patrocinador Sharp, empresa familiar dos Machline. A tenacidade do José Mauricio para mantê-lo ao longo de quase trinta anos me alegra a cada edição. Edições sofridas, heroicas, mas radiosas, sempre fertilizadas pela solidariedade dos artistas, dos músicos, dos amigos - multidões que o acodem e prestigiam. De fato, todos estamos acostumados por anos a fio a ver no agregador Machline um quase Quixote a entoar seu Sonho Impossível com a candura dos puros, a volúpia dos amantes, o ardor dos idealistas. Enfatizo que, premiar ainda em agosto, e não no acúmulo do fim do ano, é um dado de originalidade, de inteligência.

Não vou me perder aqui (nem devo) a citar os ganhadores do Prêmio, de farto conhecimento. Mas devo registrar o trabalho de uma abelhinha tenaz, a querida Zélia Duncan. Que roteirizou com perfeição toda a premiação, esgrimindo texto de primeiríssima ordem literária.

De fato, tudo confluiu para uma noite memorável. Em especial, o tema da festa, este ano dedicada a Luiz Melodia. Que foi um exemplo não apenas de talento, mas de resistência, ao sair da miséria absoluta do morro de São Carlos para ganhar os holofotes do mundo. Comovedor...

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