Por Ana Cecília Romeu

Com décadas de democracia e nós brasileiros ainda somos tão leigos no que tange ao debate saudável: ouvir o outro, expor a opinião de forma respeitosa e saber dar uma contrapartida com embasamento.

A argumentação é um exercício. E toda vez em que há um evento em âmbito nacional que deixa tudo mais visível, o que poderia ser apenas chuva fina torna-se temporal.

Na iminência de novas eleições, o fenômeno da "desargumentação" retorna em seu estilo mais tradicional: quando não se têm embasamento nem boa elaboração para sustentar uma opinião, é oferecido todo o repertório de palavras de baixo calão. E isso não é demérito de um grupo. Nesse quesito, há união: o nível está baixo.

De qualquer forma, democracia não é aval para a falta de bom senso, ou para tomada de decisões desfavorecedoras do coletivo: excludentes, homofóbicas, misóginas, racistas. Muito pelo contrário. Com estes eleitores não serve diálogo, nem voto a políticos que representam tais ideias.

No seriado televisivo do controvertido médico Dr. House, um sujeito franco e sem papas na língua, há uma fala do personagem que é mais ou menos assim: "se eu quisesse alguém concordando comigo, falaria sozinho." Penso que é fundamental termos o contraponto. Não é correto deter o latifúndio da verdade, pois não é produtivo a ninguém; além de ser pouco vasto e visível o terreno fértil, o que é mesmo factual.

Ainda há quem jogue todas suas frustrações pessoais em questões sociais, o que vem à tona quando há o debate, que de tão acalorado e sem sentido, acaba se tornando um "abate". E nesse caso, é bom cortar o assunto. Até porque alguns gostam apenas de reclamar, nada contribuem a mais. Se ganhassem uma viagem com tudo pago à Paris, é provável que apontassem defeitos no avião, no hotel, no restaurante e ainda dissessem que Paris não é isso tudo.

O ideal é verificarmos os fatos, seja na política ou em qualquer outro aspecto social do nosso país. Informarmo-nos em mais de uma fonte, trocar ideias, estabelecer contatos amigáveis, mesmo que pareça difícil.

Exercitar a luz própria parece um caminho sem erros, e economiza a energia de todos, além de preservar amizades.

Ana Cecília Romeu é publicitária e escritora

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