Neusa Maria Costa Mafra - Divulgação
Neusa Maria Costa MafraDivulgação
Por Neusa Maria Costa Mafra Geógrafa e professora da UERJ

Rio - A noite do domingo, 2 de setembro de 2018, ficará marcada na memória brasileira, como a da tragédia que transformou em cinzas o Museu Nacional do Rio de Janeiro, apagando parte importante de uma história não só nossa, mas universal.

Levou em seu rastro, um patrimônio de 200 anos dedicados à pesquisa e a preservação de testemunhos arqueológicos, botânicos, antropológicos, históricos e de outras naturezas. Entre eles, 'Luzia', o fóssil humano mais antigo das Américas (12 mil anos), encontrado em Minas Gerais, assim como o esqueleto do dinossauro de grande porte Maxakalisaurus topai, encontrado e montado no Brasil; a maior coleção de peças de arqueologia egípcia da América Latina; além de muitas outras das civilizações grega, romana e etrusca; artefatos da cultura ameríndia pré-colombiana; entre tantos outros testemunhos de imenso valor.

Sua origem remonta ao Museu Real, fundado em 1818 por D. João VI e instalado no Campo de Santana, como espaço de estudos de História Natural e Antropologia. Em 1892, como Museu Nacional, foi instalado no Palácio de São Cristóvão. A continuidade como centro de investigação científica e de abrigo de um rico e raro acervo abriu as portas para que gerações se dedicassem a transformá-lo em um centro de pesquisa de excelência. Um trabalho criterioso e incansável de pesquisadores e um patrimônio incalculável sucumbiram em horas, sem praticamente deixar vestígios. Um único testemunho desta tragédia, o meteorito Bendegó (encontrado na Bahia, em 1794), que ali estava desde 1888, seguiu intacto, em meio ao derruir de um pilar bicentenário: a mais antiga e importante instituição científica do país.

A ausência de responsabilidade e de compromisso para com a preservação deste patrimônio, por parte das gestões públicas, constitui não só uma postura atual, mas a repetição de posturas similares, durante anos, as quais culminaram com a destruição do Museu. No entanto, mais do que imputar responsabilidades atuais e pretéritas, o momento é o de cobrar destas gestões, com prioridade, medidas que levem ao renascimento deste patrimônio, através de sua valorização como instituição científica e como local de exposição de um acervo histórico, cultural e material, importante para a sociedade brasileira e a Humanidade.

A restauração do edifício histórico não irá resgatar o todo perdido, ainda que seja importante para tentar devolver alguns de seus traços arquitetônicos originais e restabelecer as condições para o melhor uso.

Neusa Maria Costa Mafra é geógrafa e professora da UERJ

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